Canguçu, quinta-feira, 21 de novembro de 2024
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Gottinari e a música que vem da terra em “Xondaro”

Nasci em Canguçu, e Marco Gottinari é daquela região, zona sul do Rio Grande. Acho que o conheci em Pelotas, por volta de 2010 — mas vivia em um sítio, onde plantava e cuidava da terra. A figura barbuda e mística me impressionou, ainda mais pela música vigorosa e bem definida, mesclando coisas do Sul, MPB e algum tempero […]


Nasci em Canguçu, e Marco Gottinari é daquela região, zona sul do Rio Grande. Acho que o conheci em Pelotas, por volta de 2010 — mas vivia em um sítio, onde plantava e cuidava da terra. A figura barbuda e mística me impressionou, ainda mais pela música vigorosa e bem definida, mesclando coisas do Sul, MPB e algum tempero pop. Já tinha um álbum lançado em 2007, em 2012 me mandou o segundo.

E recentemente saiu o terceiro, Xondaro, já fruto da vivência de sete anos no interior de Caxias do Sul, onde atua no projeto Caminhos da Floresta como agroecologista. “Quando fiz a transição da agricultura convencional para a ecológica, a música começou a tomar forma”, conta na homepage. “Quanto mais trabalhava movido pela intuição, mais ouvia a música de Gaia.”

 

Cidadão/artista do tipo raro, embora não tenha ainda se manifestado como escritor, Gottinari me lembra Henry David Thoreau e Walt Whitman. Em sua música, os temas dominantes são a integração à Natureza (assim, com maiúscula), o pacifismo, a amizade, o amor — há um lado religioso, mas no sentido etimológico de religar.

 

O título do álbum, Xondaro, é uma expressão guarani que pode ser traduzida como “cuidador do meio ambiente”. Gravado entre Pelotas, Jaguarão, Tapes, Caxias e São Pedro da Serra (RJ), está sendo lançado pelo selo Porangareté, idealizado por Cássia Eller e coordenado pelo filho dela, Chico Chico, mais o conhecido produtor e músico carioca Rodrigo Garcia. Trata-se de uma produção de alto nível, não pense que o fato de Gottinari viver no campo dispense isso.

Com instrumentos como viola caipira, craviola e djembê, Cristalina, a faixa de abertura, tem sons da natureza e um ritmo indígena. Já incluindo piano, a segunda, Flocos de Neve, encanta pelo coro infantil — são crianças de um projeto social de Jaguarão e da aldeia guarani Tekoá Porã, de Tapes, que estarão também em outros momentos. Tem samba em Tempo, com a voz de Marília Piovesan; tem milonga em Senhores da Guerra (“Os senhores da guerra não sabem perder”, diz a letra), cujo tema replica em Mortais (“Inocentes choram nas garras do poder”).

Em ritmo de samba- rock, Avesso fecha o álbum como um hino de esperança. A marcante voz de Gottinari sublinha tudo e valoriza o desempenho de músicos como Daniel Zanotelli, Beluda, Ottoni de León e Rodrigo Garcia.

Fonte: GaúchaZH