O nosso suado dinheirinho
Nessa semana, fomos pegos de surpresa com o anúncio de uma nova nota: a de duzentos reais. As primeiras moedas, tal como conhecemos hoje – peças representando valores, geralmente em metal – surgiram na Lídia (atual Turquia), no século VII a.c. fruto da necessidade individual. Foi desse lapso histórico, por exemplo, que surgiu a palavra […]
Nessa semana, fomos pegos de surpresa com o anúncio de uma nova nota: a de duzentos reais.
As primeiras moedas, tal como conhecemos hoje – peças representando valores, geralmente em metal – surgiram na Lídia (atual Turquia), no século VII a.c. fruto da necessidade individual. Foi desse lapso histórico, por exemplo, que surgiu a palavra “salário”.
O ser humano, ao longo dos tempos, tornou o dinheiro, o mal de todas as coisas. Muitas pessoas, inclusive, são a metáfora perfeita da ambição. Afinal, como diz o famoso ditado: “quanto mais se tem, mais se quer”. E, assim, guerras, mortes e histórias foram suscitadas.
Muitas das fortunas do mundo – ou do que pensamos ser dinheiro – não passam de números em sistemas e telas de computadores. Estamos condicionando boa parte da nossa saúde física e mental ao dinheiro. Nossa vida, de folha viajante da imensidão, passou a ser uma medida, cuja dosimetria é calculada pelo quanto de cédulas temos na carteira.
O dinheiro é um paradoxo. Ora é solução, ora é problema. Ele cura, mas faz adoecer. Paga dívidas e induz a fazê-las, também. Cédulas que causam confusão pelo fato de não saber, ao certo, se as queremos ou as desejamos.
Tostão, cash, vintém, cascalho… o dinheiro é traiçoeiro. É o único substantivo com propriedades humanas. Ele muda de nome, de valor e de endereço, mas, no final das contas, segue sendo o mesmo parente chato de sempre.
Imaginar um mundo sem dinheiro é utopia pura. O ser humano tem necessidade inata de temer a algo maior e mais poderoso que ele. Poderíamos ser fascinados pela natureza, pela vida ou pelo outro, porém escolhemos buscar, desatinados, por algo que nem ao menos tem razão.
Estamos acostumados com a conta que não fecha: sobram dias, falta salário. Nós nos privamos, por necessidade de ter dinheiro, do happy-hour com os amigos, de olhar aquele show inesquecível ou, até mesmo, de presentear-nos com singelos mimos. Vivemos no século em que é mais importante uma reeducação financeira, do que reeducar nossas atitudes com o próximo.
Ainda é possível prestigiar o todo (e não estou falando de realizações financeiras). Precisamos prestigiar a multiplicidade sobre a singularidade, bem como venerar atitudes as quais descortinem que é o todo (humano) é maior que uma simples divisão de partes.
Não devemos sair por aí, criticando as teorias e ideologias que são a favor ou contra o dinheiro. Devemos criticar a importância que, demasiadamente, damos para elas. Não podemos esquecer do valor que as pessoas e as coisas têm. O valor imaterial, incalculável e imperceptível aos olhos.
E, se caso tivermos algo sobrando, não esqueçamos do que nos exortou João Paulo II: “rico, de fato, não é aquele que tem, mas aquele que doa”. E isso, não diz apenas sobre dinheiro, mas sobre tempo, palavras e amor.
Antes de ter, seja!
Autor:
Luiz G. H. Almeida
Professor de Produção textual- CFNSA
Marketing e Comunicação- CFNSA
Locutor- Rádio Canguçu FM
Bacharelando em Letras/RRT – UFPEL
Bacharelando em Jornalismo- UCPEL