Canguçu, sexta-feira, 29 de novembro de 2024
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Dom Jacinto Bergmann: ó morte, onde está tua vitória?

Estamos repetindo a celebração da Semana Santa em meio à pandemia da COVID19. Neste ano de 2021 até com maior intensidade de gravidade em relação ao ano de 2020. Temos mais mortes e elas bem perto de nós: são familiares, são amigos, são vizinhos… “gente nossa!”. A morte tornou-se realidade do dia-a-dia. A Semana Santa […]


Estamos repetindo a celebração da Semana Santa em meio à pandemia da COVID19. Neste ano de 2021 até com maior intensidade de gravidade em relação ao ano de 2020. Temos mais mortes e elas bem perto de nós: são familiares, são amigos, são vizinhos… “gente nossa!”. A morte tornou-se realidade do dia-a-dia.

A Semana Santa celebra também a morte de Jesus. A Sexta-feira Santa é o dia em que contemplamos o Jesus de Nazaré morrendo na cruz. Com a sua morte realizou aquilo que um dia ele próprio afirmara: “Se o grão de trigo não cai na terra e morre, ele não produz fruto”. Assim ele entendeu a morte, assim ele abraçou a morte, assim ele ressignificou a morte, assim ele cantou a morte.

É possível cantar a morte? Pois, a morte de Jesus, o “Cristo”, possibilitou o cântico do “aleluia da ressurreição”. Quem morre por ele, com ele e nele, também consegue entoar esse cântico.

Sempre, contemplando a morte, trago presente uma “Canção à Morte”, expressa um dia por uma alma feminina. Só poderia ser uma alma feminina, pois ela vive nas entranhas o que é a vida e o que é a morte!  Trata-se de Maria Helena da Silveira, que viveu de 1922 a 1970, e que escreveu a sua “Canção à Morte”, quando vivia apenas os seus 22 anos:

“Eu espero a Morte, como se espera o Bem-amado.

Não sei quando virá, nem como virá. Mas espero!

E não há medo nesta expectativa.

Há somente ânsia e curiosidade porque a Morte é bela.

Porque a Morte é uma porta que se abre para lugares desconhecidos.

Como o amor, nos leva para um outo mundo.

Como o amor, começa para nós outra vida diferente da nossa.

Eu espero a Morte, como se espera o Bem-amado.

Porque eu sei que um dia ela virá e me receberá em seus braços amigos.

Seus lábios frios tocarão a minha fronte,

e sob a sua carícia eu adormecerei o sono da eternidade,

como nos braços do Bem-amado.

E esse sono será um ressurgimento!

Porque a Morte é a Ressurreição, a libertação,

a comunicação total com o Amor total”.

Nós cristãos, encarando a morte pela covid-19 de tantos irmãos e irmãs, sofrendo com a perda deles e delas, mas abraçando a morte “por Cristo, com Cristo, e em Cristo” (cf. a Doxologia da Prece Eucarística), também conseguimos cantar na Sexta-feira Santa:

“Ó morte, onde está tua vitória? Cristo ressurgiu: honra e glória!

Não temos medo de nada: Cristo ressuscitou! A morte foi derrotada: Cristo ressuscitou!

As trevas foram vencidas: Cristo ressuscitou! Cadeias foram rompidas: Cristo ressuscitou!

Surgiu a grande esperança: Cristo ressuscitou! Razão de nossa confiança: Cristo ressuscitou! Justiça, paz e verdade: Cristo ressuscitou! Constroem a fraternidade: Cristo ressuscitou!

Na dor nós temos alívio: Cristo ressuscitou! Conosco faz seu convívio; Cristo ressuscitou!”

(Canto litúrgico do Tempo Pascal da Igreja Católica).

 

Dom Jacinto Bergmann,
Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas.