Canguçu, domingo, 24 de novembro de 2024
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Personalidades de Canguçu: professora Geisa Goulart

Estreia neste domingo (2), uma série de reportagens que vai contar a história de personalidades que marcaram época, pessoas que suas histórias simbolizam orgulho para Canguçu. Nossa primeira personalidade em destaque será a professora Maria Geisa Duarte Goulart (1940-2013), uma pessoa que foi apaixonada pela sua profissão e revolucionou diversas áreas da educação e cultura […]


Estreia neste domingo (2), uma série de reportagens que vai contar a história de personalidades que marcaram época, pessoas que suas histórias simbolizam orgulho para Canguçu.

Nossa primeira personalidade em destaque será a professora Maria Geisa Duarte Goulart (1940-2013), uma pessoa que foi apaixonada pela sua profissão e revolucionou diversas áreas da educação e cultura no município.

Para nos contar um pouco mais sobre sua trajetória, a equipe de reportagens do Canguçu Online entrevistou sua única filha, Ingrid Goulart Bohmer Ferraz.


Infância, história e família

Nascida em 1940, a professora era a terceira filha, primeira mulher, entre os oito irmãos. Por conta de sua idade mais avançada em relação aos demais, acabou tomando conta dos menores e auxiliando na educação dos mesmos.

Desde cedo aprendeu a costurar, confeccionava roupas e vestimentas para diversas pessoas, possuía ampla habilidade manual.

Texto escrito por Geisa sobre sua primeira professora (Foto: arquivo pessoal)

Além de mãe de Ingrid Goulart Bohmer Ferraz, também professora, Geisa foi avó de duas meninas, Ana Carolina (15 anos) e Maria Laura (6 anos), que acabou não conhecendo devido à data de sua partida.

Geisa, sua neta Ana Carolina e a filha Ingrid (Foto: Arquivo Pessoal)

Sua filha, uma das pessoas que mais a admira, conta que sua mãe agia sempre com muito amor pela profissão. Para ela, nada relacionado ao seu trabalho era tido como uma obrigação: realizava as atividades com criatividade e carinho pelo alunos.

Outra pessoa que a lembra com admiração, sua prima de segundo grau, Jaceâ Iara Bastos Reck, canguçuense que atualmente mora em Porto Alegre. Ela conta que eram muito amigas e via em Geisa uma força imensa. A prima reforça seu sentimento com uma das histórias que a marcou.

“Em certa ocasião, minha querida e amada mãe, que também sempre foi muito especial por muitos dessa cidade, precisou de uma grande cirurgia. Tivemos que trazê-la para Porto Alegre. O custo era muito alto mas estávamos imbuídos em fazer mesmo com dificuldade. E qual foi nossa surpresa, sem que soubéssemos, a Geisa, com ajuda de toda cidade fez uma ‘vaquinha’.

Arrecadou boa parte para nos ajudar. Mas saiu da cabeça dela”, e Jaceâ completa “Ela sempre foi muito presente em todos os momentos de nossas vidas”.

Jaceâ guarda as imagens com a prima como recordação (Foto: arquivo pessoal)

Carreira

Aos 16 anos, Geisa Goulart iniciou sua trajetória na educação, começando a trabalhar como professora no município de Canguçu.

Em 1979 entrou para o ensino estadual, iniciando pela pré-escola, passou a gostar de atuar com crianças. A professora possuía grande dedicação para o ensino infantil. Seu objetivo, muito antes de diversas conquistas na área, era desenvolver todos os sentidos das crianças.

Lecionar para crianças se tornou sua principal paixão na educação, ela se dedicava muito para ampliar os formatos pedagógicos. Possuía álbuns com fotos de todos os seus alunos da educação infantil, desde 1979 até 2004.

Álbum de fotos dos alunos (Foto: arquivo pessoal)
Um dos álbuns que guardava com fotos de todos os seus alunos da educação infantil (Foto: arquivo pessoal)

 

 

 

 

 

 

 

Ingrid conta que sua mãe costumava receber os convites de formaturas de ensino superior de seus ex-alunos e isso a enchia de orgulho, por ter formado e contribuído com a educação de diferentes profissões. Ela permaneceu até 2004 nesta área, momento em que se aposentou.

Agia com prazer, de acordo com uma de suas antigas alunas, Betina Souza, ela fora uma das professoras que mais a inspirou durante a vida.

Betina fora sua aluna nas séries iniciais na Escola Estadual de Ensino Fundamental Irmãos Andradas, conforme relatou, a professora lhe serviu como uma das principais razões pelas quais decidiu cursar Artes Visuais na Universidade Federal de Pelotas.

Atualmente Betina está no último ano do curso e lembra do exemplo e dedicação de Geisa desde a infância.

Professora Geisa ao lado da aluna Betina Souza (Foto: arquivo pessoal)

“Me emociono quando lembro da professora Geisa Goulart. Ela marcou a minha infância de uma forma tão boa que me inspira até hoje nas minhas escolhas como professora de artes. Com aquele jeito delicado e doce, nos proporcionava aulas em um universo lúdico, estimulando a nossa criatividade.

Ela era brilhante, extremamente inteligente e com muito a compartilhar conosco, fui uma privilegiada. Me incentivou desde a pré-escola, a seguir com os meus trabalhos artísticos, coisa que eu fiz, e espero ser com meus alunos, pelo menos uma parcela do que ela significa pra mim.

Tive muitos professores excelentes, mas ela sem dúvidas foi minha favorita. Minha admiração é infinita, poderia ficar horas contando tantas lembranças boas que tenho dela. Saudade eterna”, relatou a ex-aluna, Betina Souza.


Tradicionalismo 

Mais uma de suas paixões, a cultura gaúcha também recebeu grandes contribuições com a criatividade da professora. Atuou e foi pensadora de diversas histórias que continham o “gauchês”. Ao lado de Marlene Barbosa Coelho, desenvolveu atividades de incentivo à cultura gaúcha em Canguçu. 

Como atuava com crianças, percebeu que os textos de declamações e causos gauchescos eram muito pesados, contavam histórias de lutas e guerras, nenhum era voltado para seu público infantil, por esse motivo, passou a escrever as próprias histórias gaúchas para a criançada contar e declamar.

Poemas que compunha para seus alunos declamarem (Foto: arquivo pessoal)

Ela criou o grupo de dança “Gadinho de Osso”, o 1º Grupo Escolar de Danças Mirins. A partir de seus ensaios e apoio, o grupo realizava apresentações em datas comemorativas de Canguçu, dançava desde as primeiras edições da Ciranda Estudantil Nativista (CIENA) do município.

Apresentações do Gadinho de Osso em datas comemorativas do município (Foto: arquivo pessoal)

A professora Geisa esteve desde o primeiro grupo de dança do CTG Sinuelo, criou todo um material de resgate da história da instituição, bem como do Clube Harmonia.

Livro de regate da história do CTG Sinuelo (Foto: Arquivo Pessoal)

 


Relação com a cultura 

Enquanto profissional da educação, Geisa costumava guardar e contar histórias. Sem deixar nunca de manter as datas, valorizava muito as árvores genealógicas e contos diversos sobre locais e pessoas do município.

Segundo contou sua filha, ela possuía grande preocupação com que as histórias não se perdessem, contribuía para que os relatos fossem mantidos. Ela também contava histórias religiosas. Depois de aposentada, a mesma atuou como evangelizadora de crianças, realizando atividades recreativas e apresentações sob a temática do amor de Cristo.

Grupo de crianças que atuava na evangelização (Foto: arquivo pessoal)

Morte

Em maio de 2013, a professora acabou falecendo em decorrência de um câncer. Até seus últimos momentos, ela atuava como evangelizadora em sua comunidade religiosa, atendia crianças e propunha atividades recreativas utilizando o cristianismo como referência.

A filha informou que sua mãe repetidas vezes afirmava que após sua morte “ainda que partisse, onde quer que estivesse, iria seguir atuando com crianças”.

Geisa também foi a primeira professora de sua filha (Foto: arquivo pessoal)

Para Ingrid, sua mãe marcou época “era doce, de uma risada extravagante […] Ela tinha uma preocupação em deixar a história registrada para que os outros conhecessem. O objetivo dela era fazer com que as história jamais se perdessem”, relatou.


Essa história possui diversos relatos e vivências que precisam ser eternizadas, o mundo digital vem unindo futuro e passado através de fatos.

Conhece alguma outra personalidade do nosso município? Envia para a nossa redação através do WhatsApp (53) 98418-6890.