Canguçu, terça-feira, 26 de novembro de 2024
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Mulher é ameaçada de morte em caso de intolerância religiosa em Canguçu

Após registrar três boletins de ocorrência por intolerância religiosa uma mulher moradora de Canguçu sofreu nova ameaça de morte na Vila Izabel. O fato ocorreu no início deste mês, a vítima contou ao Canguçu Online que a situação é recorrente “se eu fosse registrar todas as vezes que já sofri sanções, teriam vários boletins”. Prevista […]


Após registrar três boletins de ocorrência por intolerância religiosa uma mulher moradora de Canguçu sofreu nova ameaça de morte na Vila Izabel. O fato ocorreu no início deste mês, a vítima contou ao Canguçu Online que a situação é recorrente “se eu fosse registrar todas as vezes que já sofri sanções, teriam vários boletins”. Prevista em lei, a intolerância religiosa é uma prática proibida e ofensiva que ocorre por meio do desrespeito com pensamentos, práticas ou crenças religiosas de terceiros.

Em contato com o Canguçu Online, a Polícia Civil informou que foi instaurado inquérito policial para apurar o caso. O Delegado Cesar Nogueira determinou que fosse feita oitivas com a vítima, a testemunha (filha da vítima) e eventuais outras testemunhas. Em breve o inquérito deve ser concluído e mais informações serão divulgadas. A reportagem não teve acesso ao nome da mulher que é acusada, por esse motivo a mesma não foi contatada.

A ocorrência

Na noite do dia 2 de março, a mãe de santo, como é denominada, estava realizando um ritual em que precisava despejar 800ml de água na calçada. Ao se dirigir até o local que fica na Vila Izabel, acompanhada de sua filha de santo, ela conta que foram surpreendidas por uma senhora com xingamentos e gritos em relação a prática de sua religião. “Fomos tão surpreendidas que somente depois consegui pegar o celular pra gravar e mesmo assim ela continuou”, relembra.

Naquele momento, a mulher ainda recebeu ameaças contra sua vida. “Após dizer que iria dar um tiro na cara da minha filha, (ela) falou que ia nos encher de tiro, que era pra sair dali que não ia prestar. (Disse) que a rua era dela que ela pagou, acredito se referindo ao calçamento comunitário”. Depois das ameaças verbais, a vítima conta que a moradora que proferiu as palavras se dirigiu para dentro de casa “entrou pra dentro de casa dizendo que ia chamar a polícia e depois ficou manuseando algo embaixo do balcão”, conta.

Em decorrência destes fatos, ela preferiu chamar a proteção da Brigada Militar que se deslocou até lá para averiguar. “Os policiais nós ouviram, ouviram a parte, que na presença da brigada ficou super tranquila. Disse e repetiu que a rua era dela que não queria a gente ali”, relata.

“Não me sinto segura”

A mulher conta que mora no local desde 2011 e começou a trabalhar na religião em 2013. “Na nação/batuque trouxe meus Orixás pra casa em 2016”. Desde então, já sofreu outras ameaças semelhantes. “Foram várias ofensas, agressões verbais, xingamentos, recados ‘sutis’ e nem tanto que recebo por parte desta pessoa. Já fiz um boletim de ocorrência contra a mesma em outra situação há alguns anos”, lamenta.

Além deste episódio, ela relembra que a senhora já foi desrespeitosa durante outras práticas religiosas que utilizavam de milho, batata e pipoca, isso porque, segundo ela, os alimentos atraem pássaros para o local. “Ela alega que estou atraído passarinhos, e isso é o que gera tanto ódio e desconforto da parte dela”. A reclamação da moradora se refere a existência dos pássaros em sua calçada “sou proibida de passar ali porque ela ‘pagou’ pelo calçamento”, reforça.

“Não tenho direito de liberdade de culto”

“O fato é que eu deveria servir meus Barás uma vez por semana, mas acabo fazendo a cada 40/60 dias, pois o lugar de despachar é ali. A oferenda a Bará nada mais é que pipoca milho e batata. Tudo biodegradável. A regra da nossa casa é não sujar os locais que nos são sagrados”, conta.

Em outros momentos, a moça conta que não obteve retorno da justiça sobre as ameaças. “Eu já fui ameaçada em outra oportunidade, quando registrei o boletim de ocorrência contra a mesma, porém até hoje nem eu nem ela fomos chamadas a prestar esclarecimentos. O que mostra o quão importante é uma delegacia ou uma sala para crimes de intolerância”, diz.

“Tenho filhos pequenos que muitas vezes me acompanham ao local, e temo pela nossa vida e nossa segurança. Questionei aos vereadores quem se responsabilizará caso algo nos aconteça? Faz um ano, e realmente o que eu disse está acontecendo”, enfatiza.