Canguçu, domingo, 24 de novembro de 2024
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Pesquisa da UFPel aborda tratamento hormonal para prevenção de parto prematuro

O tratamento hormonal para prevenir o parto prematuro é utilizado em menos de 25% das gestantes em risco, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas. A pesquisa revelou que o número de gestantes que atendem aos critérios para o uso de progesterona como tratamento preventivo é quatro vezes maior do que […]


O tratamento hormonal para prevenir o parto prematuro é utilizado em menos de 25% das gestantes em risco, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas. A pesquisa revelou que o número de gestantes que atendem aos critérios para o uso de progesterona como tratamento preventivo é quatro vezes maior do que o daquelas que realmente fazem o tratamento.

O uso da progesterona faz parte dos protocolos e diretrizes nacionais para prevenção da prematuridade, um dos principais problemas de saúde pública no Brasil. O nascimento precoce, ou seja, antes das 37 semanas de gestação, quando os órgãos do feto ainda não estão completamente formados, aumenta os riscos de internação em UTI, infecções e outras complicações de saúde do recém-nascido – além de ser a principal causa de mortalidade infantil.

“A progesterona reduz as contrações uterinas e tem papel importante na manutenção da gravidez e, por este motivo, vem sendo utilizada na prevenção do parto prematuro”, explica a farmacêutica Camila Corrêa Colvara, autora da pesquisa desenvolvida em trabalho de dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, sob orientação da docente Andréa Dâmaso e coorientação dos doutores Marysabel Silveira e Otávio Leão.

A pesquisa acompanhou 4,2 mil mulheres que deram à luz no ano de 2015 na cidade de Pelotas, entrevistando as participantes duas vezes durante o pré-natal e uma terceira vez nas primeiras horas após o parto no hospital. Informações sobre uso da progesterona foram obtidas através dos relatos maternos e da coleta de dados nas carteirinhas de acompanhamento das gestantes. Para avaliar a indicação de uso de progesterona, os pesquisadores utilizaram critérios do Ministério da Saúde e do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (livre tradução para American College of Obstetricians and Gynecologists), considerando como casos de indicação de uso aqueles que apresentavam pelo menos um dos motivos de indicação: parto prematuro prévio, gestação múltipla e ameaça de aborto.

Os resultados mostram que 14% das gestantes usaram progesterona durante a gravidez. O uso foi mais frequente entre mulheres brancas, mais escolarizadas, de maior renda, tendo sido observado aumento de uso conforme o aumento de idade das mulheres.

Do total de participantes, 1.262 gestantes atenderam aos critérios de uso da progesterona, mas apenas 23,5% delas utilizaram o tratamento. Os dados evidenciam o impacto de desigualdades socioeconômicas no uso do hormônio, embora o tratamento seja disponibilizado gratuitamente pela rede pública de saúde. Do total de gestantes com indicação de uso, o número de mulheres que realmente usaram o tratamento foi o dobro na rede privada em comparação com o número de usuárias da rede pública (34,3% versus 17,9%). Ainda em relação ao grupo de mulheres com indicação de uso, uma em cada cinco tiveram parto prematuro e não usaram progesterona – 82,4% das quais foram atendidas no setor público, enquanto no setor privado essa proporção foi de 47,8%.

O estudo fornece informações sobre o padrão de uso em relação à história obstétrica das mulheres. O uso de progesterona foi mais frequente entre as gestantes com intervalo entre gestações inferior a dois anos (18,7%), gestantes acima do peso antes da gestação, (16,2%), aquelas que tiveram parto cesariana (16,6%), parto de gêmeos (40,4%), que tiveram parto prematuro (20,8%), ameaça de aborto (44,4%) e ameaça de parto prematuro (27,9%).

Segundo a autora, existem poucos estudos sobre o uso da progesterona na prevenção da prematuridade no Brasil, o que não permite que sejam entendidas as barreiras ao uso do tratamento adequado. “Tudo indica que que essas barreiras não são isoladas, mas convergem para que mulheres que deveriam fazer uso do tratamento acabem por não o fazer”, diz Camila. Ela afirma que são necessários mais estudos para que se indiquem as razões para isso; no entanto, a hipótese é que estas possam ser de diversas naturezas, desde motivos financeiros à falta de recomendação médica e não-adesão da paciente ao tratamento.

Fonte: Coordenação de Comunicação Social da Universidade Federal de Pelotas