Canguçu, domingo, 24 de novembro de 2024
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Exercícios de baixo impacto melhoram sono e reduzem os sintomas de pessoas com asma

Pensando em melhorar a qualidade do sono de pacientes com asma, uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) estudou os efeitos de exercícios físicos de baixo impacto para pessoas nesta condição. Os resultados apontam para uma melhora na qualidade e eficiência do sono e na redução dos sintomas de asma nos participantes. […]


Pensando em melhorar a qualidade do sono de pacientes com asma, uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) estudou os efeitos de exercícios físicos de baixo impacto para pessoas nesta condição. Os resultados apontam para uma melhora na qualidade e eficiência do sono e na redução dos sintomas de asma nos participantes.

O medo de se exercitar e ficar com falta de ar, o sobrepeso, a respiração oral, alergias e sintomas noturnos explicam por que pessoas asmáticas possuem tendência para problemas do sono. Entre as maiores dificuldades nessa população estão o tempo prolongado para adormecer e o baixo aproveitamento do sono, com despertares durante a noite e sonolência durante o dia.

Levando em conta esses fatores, “a pergunta que a pesquisa fez foi: será que algum aspecto da rotina, mais leve e mais factível, como aumentar a atividade física, poderia melhorar a qualidade do sono?”, diz Celso Carvalho, professor do Laboratório de Fisioterapia e Fisiologia do Exercício da FMUSP. Segundo o pesquisador, pessoas asmáticas evitam fazer exercícios físicos pois, feitos de forma inadequada, desencadeiam o fechamento da via aérea e falta de ar. No entanto a pesquisa, publicada na European Respiratory Journal, mostrou os benefícios de uma rotina de atividade física feita de forma adequada em pessoas asmáticas, sem obstruir as vias aéreas.

 

O estudo acompanhou por oito semanas dois grupos de pacientes asmáticos, com graus moderado e grave. Os pesquisadores deram uma aula sobre a patologia, a importância de exercícios físicos e controle de limpeza ambiental para todos os participantes e em seguida os separaram em grupo controle — aqueles que não fariam atividade física — e grupo intervenção.

As tarefas propostas para o grupo que passou por intervenção eram exercícios físicos simples, como caminhar mais, descer do ônibus um ponto antes, usar a escada ao invés do elevador. Os números de passos diários foram monitorados com um relógio distribuído aos pacientes, o que possibilitou a análise da evolução individual. Os voluntários também descreveram, semanalmente, os sintomas de asma que tiveram durante a pesquisa.

“Observamos que a qualidade de vida deles melhorou em relação, por exemplo, aos sintomas de ansiedade, houve a diminuição do tempo de latência desses pacientes, então eles conseguiram dormir mais rápido, e melhorou a qualidade do sono deles”, diz Natália Febrini, uma das autoras do estudo.

“Todos eles melhoraram de alguma maneira. Quem dormia muito mal passou a ter alguns pequenos problemas, e quem tinha alguns pequenos problemas deixou de ter problemas para dormir.”

Também houve diminuição de todos os sintomas de asma dos pacientes. “Quando a pessoa asmática faz exercício físico, melhora a inflamação das vias aéreas e diminui a hiper-reatividade [resposta exagerada a estímulos], o que possibilita o melhor controle clínico da asma”, explica Carvalho. Mas os pesquisadores ressaltam que os resultados não significam que a atividade física cure a doença ou que substitua a medicação — o próprio estudo não cortou os remédios usados pelos pacientes —, e sim, funciona como um adicional para o tratamento e melhoria da qualidade de vida.

Além do aumento da aptidão física, o exercício gasta energia e o organismo tende a compensar isso durante a noite; também o aquecimento do corpo produzido pela atividade embala um sono mais bem aproveitado. Até mesmo para pessoas não asmáticas, implementar exercícios físicos de baixo impacto já produz resultados positivos na saúde dos indivíduos. “Após exercício físico, o organismo sempre ativa o sistema nervoso parassimpático, envolvido na diminuição da frequência cardíaca, e isso provoca a tendência de dormir mais rápido.”

A parte educacional do estudo também fez diferença no dia a dia dos dois grupos. Segundo os pesquisadores, alguns dos participantes da pesquisa não entendiam direito o que era asma ou sobre as reações alérgicas a cheiros comuns, como cigarro ou produtos de limpeza, que eram derivados da patologia. Ao entender melhor sobre a doença e a importância de exercícios físicos, os pacientes podem melhorar a qualidade de vida.

“É uma doença sem cura, mas é possível ter uma vida completamente normal. É necessário entender que a doença é algo que vai te acompanhar, mas que não deve te limitar a viver.”

Mais informações: e-mail natalia.passos@fm.usp.br, com Natália Febrini.

 

Por Julia Custódio/Jornal da USP