Canguçu, sábado, 2 de novembro de 2024
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Volnei Ceron sobre a Reforma da Previdência: Viva o Estado!

Entenda-se como ironia, figura de linguagem que melhor pode traduzir o sentimento pelo qual muitos devem estar passando. Temos aí nitidamente um governo, e digo, governos, longe da tradicional e esgotada cegueira ideológica, amigo da malandragem, estimulador da vagabundagem – e não me digam que estarei discriminando e ofendendo aquelas pessoas que entraram no mercado […]


Entenda-se como ironia, figura de linguagem que melhor pode traduzir o sentimento pelo qual muitos devem estar passando. Temos aí nitidamente um governo, e digo, governos, longe da tradicional e esgotada cegueira ideológica, amigo da malandragem, estimulador da vagabundagem – e não me digam que estarei discriminando e ofendendo aquelas pessoas que entraram no mercado de trabalho mais tarde… não, meu amigo, a intenção não é essa! Todo respeito a todos os trabalhadores – você precisa colocar o pão do café da manhã, garantir o feijão e arroz das crianças, pagar suas contas… e quem vai fazer isso se não você?

A questão quando me refiro a tais conceitos é justamente pra colocar em evidência uma política que só desvaloriza, desmerece, desconsidera todos aqueles que um dia começaram cedo a trabalhar, muitos antes mesmo dos dezoito anos. Gente responsável, longe dos muitos delinquentes de hoje que não tendo o que fazer, ficam a coçar o saco – perdoe-me a expressão – e a praticar inúmeras ilicitudes… que agora recebem a gratidão, a punhalada nas costas da nação mãe em função dessa maravilhosa e justa reforma da previdência.

Gente que trabalhou anos a fio, produziu riquezas, emagreceu à custa de tanto suor exalado; gente que recebeu rugas, entortou a coluna, vive nas dores. E o que recebem? Gente que nunca traficou, que sempre honrou seus compromissos, gente que sempre trabalhou e deu tudo o que podia nos seus mais diversos afazeres. Gente que perdera festas, que não tivera tempo para dar uma de play boy ou patricinha porque o trabalho e o lutar pela vida urgiam em primeira necessidade. Gente que arregaçou as mangas e foram à luta. E o que recebem?

Recebem, meus amigos, infelizmente a conta de uma sociedade que se diz igualitária, justa, preocupada com seu povo. Uma farsa! Igual como? Justa, de que jeito? Temos aí, e você deve lembrar e ter estudado, o que a Pátria vez com o povo de Canudos? A bala comeu. Olhe, os ideais da Inconfidência Mineira, os da Revolução Farroupilha, veja onde pararam os muitos que lutaram por melhorias se não no fio da navalha, degolados a moda bicho! É a igualdade entre os seus, a discrepância para com os outros. Quantas categorias ficaram de fora da tal reforma? Muitas. E em grande parte justamente aquelas que encabeçaram ou compactuaram com essa situação. Privilégios, sim. Poder, sim. Melhor pra mim, que o outro se dane, primeiro eu…  Máximas de sempre. Lá em Brasília. Aqui por esses pagos, não é diferente. Crise para os servidores do Executivo, salários atrasados, cinco anos sem reposição de inflação ao passo que os outros poderes estão na fresca e leve brisa. Uns pagam pelos outros. Não me venham com essa de igualdade, justiça… conversa pra boi dormir.

Então você poderá, e ao que tudo indica, será um daqueles que deverá trabalhar e gerar impostos ao governo algo em torno de 40 a 50 anos de trabalho, de exploração até chegar a tão sonhada aposentadoria, o merecido descanso.  Números somatórios, transições, gatilhos… na cabeça do trabalhador.  Creia Deus que a conta da funerária não chegue antes! Pode, com muita sorte não vir, mas talvez já não tenha o mesmo sabor esse momento final. Problemas de saúde, limitações depois de muitos anos de serviço, ou até mesmo decorrentes da idade poderão nos permitir a ver a vida somente pela vidraça da sala ou de algum hospital.

Um desrespeito. Você se organiza uma vida toda e assim, de repente, de uma hora para outra, tudo foi por água abaixo. Essa reforma é como aquele relacionamento de décadas de convivência, que pareceu seguro, e que do nada, a metade da laranja apodreceu. Assim, ferro em quem trabalhou desde cedo e naquele que iniciou mais tarde, pois este usufruirá parte da aposentadoria, longe da integralidade – algo como o entregar o quinto do ouro à coroa, só que com a diferença que esse “quinto” é a nossa vida!

Amigos, sinceramente, fica a indignação. Graças que muitos a cada dia estão mais atentos às coisas que acontecem nesse país. Já foi o tempo de sermos os Quaresmas da vida!

 

Viva o Estado!
Volnei Ceron dos Santos
Professor e Especialista em Educação