Polícia Civil alerta para aumento nos crimes de estelionato
Crimes de estelionato aumentaram 25% no Estado, se comparado o primeiro mês de 2019 e o de 2020 – foram 8,4 mil casos e 10,5 mil, respectivamente. Os números são da Secretaria Estadual da Segurança Pública, os quais revelam ainda que na comparação de abril desses dois anos, o crescimento foi de 35,8%, sendo 2.142 […]
Crimes de estelionato aumentaram 25% no Estado, se comparado o primeiro mês de 2019 e o de 2020 – foram 8,4 mil casos e 10,5 mil, respectivamente. Os números são da Secretaria Estadual da Segurança Pública, os quais revelam ainda que na comparação de abril desses dois anos, o crescimento foi de 35,8%, sendo 2.142 golpes em 2019 e 2.910 golpes em 2020. Grande parte desses casos envolve a clonagem de perfis do WhatsApp – o que acabou se tornando uma das principais demandas desse tipo de crime para a Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI) da Polícia Civil, que atua na investigação de delitos praticados pela Internet ou por meio de algum dispositivo informático. Lógico que a delegacia, sediada junto ao Departamento Estadual de Investigação Criminal (Deic) em Porto Alegre, ainda enfrenta e investiga as repercussões desses “golpes” na vida das vítimas.
Titular do órgão, o delegado André Lobo Anicet, explica que a clonagem de números do aplicativo de comunicação instantânea passa por uma verdadeira engenharia social. “O criminoso é ardiloso. Pode criar perfis ou situações para emboscar as vítimas mais desavisadas”, pontua. Em casos de pessoas que informam o número de contato do WhatsApp em sites de vendas, por exemplo, não é raro que o golpista entre em contato informando que para o anúncio ser validado, ele necessita de um código que chegará via SMS (mensagem de texto).
Nesse instante, o criminoso tenta logar no WhatsApp com o número da outra pessoa, o que faz com que o aplicativo envie para a vítima uma mensagem com um código de verificação. Erroneamente, quando esse número chega no celular da vítima, ela o passa para o criminoso. “Na verdade, esse código é o próprio código de segurança do aplicativo, sem o qual o fraudador não teria como clonar aquele número”, alerta. Especificamente aqui, qualquer um que tenha WhatsApp pode ser alvo desse tipo de crime.
Ainda nesse universo do Whats, outro golpe possível envolve a criação de um perfil falso de conhecidos da vítima, com o intuito de pedir dinheiro. “Isso, geralmente, ocorre com quem tem redes socias abertas e com muitos seguidores, o que possibilita que o criminoso copie fotos para criar um perfil falso e busque por pessoas conectadas a ela na vida real”, informa. O contato quase sempre acontece com familiares, aos quais o criminoso, se passando pela vítima, solicita dinheiro ou o pagamento de algum boleto bancário, sob o pretexto de que no dia seguinte irão ressarcir a quantia – o que, obviamente, não acontece.
Outra modalidade de estelionato que tem mobilizado a Polícia é o “golpe dos nudes” – o qual também envolve o crime de extorsão. Com perfis falsos criados em sites de relacionamentos, como o Facebook, o criminoso se passa por mulheres jovens e bonitas, mirando, principalmente, homens de meia idade, cujas redes sociais sejam abertas. “O relacionamento virtual fica mais quente, e as ‘falsas jovens’ trocam fotos íntimas e solicitam o mesmo a esses senhores. Não demora muito, outra pessoa entra em cena, chamando a vítima de pedófilo e exigindo dinheiro para não vazar as fotos dela na internet”, comenta. O mesmo golpe ainda pode contar com a participação de falsos policiais civis, que entram em contato com a vítima, também por redes sociais fraudulentas, exigindo dinheiro para arquivar o inquérito policial.
Também e-mails maliciosos que instalam programas capazes de roubar senhas e dados ou bloquear aplicativos podem ser um problema para quem costuma “clicar antes e pensar depois”. “Atualmente, inclusive, golpista fingem usar o e-mail da Delegacia Online para solicitar dados. É importante que percebamos que e-mails governamentais, como o da Polícia Civil e o da própria DOL, terminam sempre com ‘.gov.br’ e não ‘.com'”.
Ainda em falsos sites de leilão do Estado, que fornecem endereços de depósitos de veículos oficiais, criminosos realizam leilões online. O golpe se concretiza quando as vítimas, com falsas cartas de arrematação, realizam o depósito em dinheiro.
Como se proteger?
“Costumo sempre dizer que na Internet precisamos desconfiar de tudo e de todos, principalmente, quando não sabemos com exatidão com quem conversamos. Então, compartilhar fotos ou informações íntimas tende a ser muito perigoso”. Essa é a primeira dica de Anicet: desconfie.
No caso dos falsos sites de leilão atenção redobrada aos leiloeiros, os quais precisam ser cadastrados junto ao Judiciário, e às contas para depósito, que em leilões oficiais nunca serão de pessoa física ou jurídica, mas judicial. “Também esses falsos sites geralmente terminam em ‘.com/br’ numa clara tentativa de imitar os sites autorizados pelo Judiciário, os quais terminam quase sempre em ‘.com.br’ ou ‘.lel.br'”.
Escape da clonagem
Sobre a clonagem de WhatsApp, ele pede que as pessoas não forneçam o código de segurança a terceiros, mas, caso aconteça, e a vítima não consiga mais acessar o perfil, deve informar da clonagem por e-mail ao WhatsApp e solicitar o bloqueio da conta.
Um mecanismo de segurança muito útil é a verificação em duas etapas – uma espécie de contrassenha que é solicitada pelo aplicativo para barrar tentativas de clonagem. Para ativá-la abra o aplicativo, toque no menu de três pontos e acesse as “Configurações”. Em “Conta”, escolha “Verificação/Confirmação em duas etapas”, toque em “Ativar” e escolha uma senha com seis dígitos para a conta do WhatsApp. Em seguida, será necessário confirmar o seu PIN, infomar um endereço de e-mail válido (caso esqueça seu código), tocar em “Avançar” e confirmar seu endereço de e-mail em “Salvar”.
No meio real
Muito embora os golpes de estelionato tenham se multiplicado Internet afora, o mundo real também reserva suas armadilhas. E entre as diversas existentes, talvez, ainda hoje, a que mais vitime as pessoas seja a do golpe do bilhete premiado. Titular da 12a Delegacia de Polícia da Capital, o delegado Wagner Dalcin, explica o modus operandi do criminoso – “ele leva a vítima a acreditar que ele (o criminoso) ganhou um prêmio numa loteria, mas que para o mesmo ser liberado é necessário um depósito em dinheiro e que se a vitíma ajudá-lo com isso, parte do prêmio será dela”. Mas isso não acontece, e, geralmente, a vítima só percebe que foi ludibriada tarde demais.
Embora os golpes sejam muitos, uma característica geral os conecta – a sedução do estelionatário. “Ele é um verdadeiro ator, que se aproveita da boa-fé e da ingenuidade das pessoas”, analisa Dalcin, lembrando que não raramente as vítimas “saem atrás” de quem as prejudicou. “Agem como se fossem investigadores, tentam resolver a situação por conta própria e demoram parar ir à polícia”, revela. A orientação, segundo ele, é sempre procurar as autoridades e registrar boletim de ocorrência, seja para um eventual golpe do bilhete ou outro. “Só assim o delegado vai tomar conhecimento do fato e iniciar uma investigação”.
A complexidade do crime
Difícil de investigar, geralmente tem como prova apenas a palavra da vítima. “Um elemento muito parco para se levar ao promotor e juiz e render processo, condenação e prisão”, afirma. Também a legislação é bastante “branda” e, segundo Dalcin, reflete na atuação do Judiciário, pois se tratando de um delito cometido sem violência ou grave ameaça difícilmente se conseguirá uma prisão preventiva. “A não ser em casos excepcionais, quando se prova a reiterada prática criminosa como meio de vida daquele sujeito”, completa o delegado, reforçando aí a importância do registro da ocorrência policial pela vítima.
Fonte: Acústica FM