Canguçu, sexta-feira, 22 de novembro de 2024
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Entrevista com Michel Schellin Canez: “Minha maior pretensão dentro da igreja é poder estar a serviço das pessoas”

Como está sendo sua caminhada para se tornar padre? Estou prestes a me tornar padre, e para mim é motivo de grande alegria e de profunda gratidão a Deus por tudo que vivi e de sua graça que me acompanhou durante todos estes anos de formação. Minha caminhada para chegar até aqui foi semelhante a […]


Como está sendo sua caminhada para se tornar padre?

Estou prestes a me tornar padre, e para mim é motivo de grande alegria e de profunda gratidão a Deus por tudo que vivi e de sua graça que me acompanhou durante todos estes anos de formação. Minha caminhada para chegar até aqui foi semelhante a de tantos outros que se sentiram chamados por Nosso Senhor a entregar a sua vida totalmente a serviço d’Ele e da Igreja.

Quando um jovem se sente chamado a se tornar padre, ele procura a paróquia de sua cidade, faz um acompanhamento com o padre e, se for o caso, é encaminhado para o Seminário Diocesano. O período formativo compreende, aproximadamente, oito anos de formação, incluindo duas faculdades, filosofia e teologia. Ainda existe um período de adaptação e estágio em que se observa a vida do candidato.

Em que momento você irá se tornar padre?

Vou me tornar padre no final de 2021. A ordenação está prevista para novembro e deverá acontecer em Canguçu, minha terra natal, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.

Como são delegadas as funções na Igreja Católica? 

Nós, enquanto Igreja, partimos do pressuposto que Deus faz um chamado a um homem para servir, assim como Cristo Jesus se fez servo de todos e deu sua vida por nós, o que vai em sentido contrário àquela busca de sucesso e de promoção de si mesmo, da figura do padre.

Dentro da Igreja, diferentemente do meio militar, não trabalhamos com carreira; um carreirista eclesiástico seria aquele que busca altos escalões, padre, bispo, arcebispo e papa. Quando vemos um candidato que busca somente estas pretensões (de carreira), vemos que não é um sinal de vocação, mas, sim, uma busca de poder e status. Claro que ser bispo, cardeal ou papa também é um chamado de Deus, mas que vem d’Ele, não das pretensões particulares.

“Me sinto muito feliz em ser canguçuense e poder trabalhar aqui na região” (Foto: Elison Bitencourt)

Qual a sua maior pretensão dentro da Igreja Católica? 

Minha maior pretensão dentro da Igreja é poder estar a serviço das pessoas, dos fiéis que necessitam. Nós vivemos numa sociedade que busca progressos, tem avanços tecnológicos e, ao mesmo tempo com muitas dificuldades, sobretudo no quesito humanidade, onde o indivíduo é apenas mais um em meio a massa, onde a dignidade dos homens e mulheres são esquecidos, e tantas pessoas que vivem uma vida sem sentido, não significam sua existência.

Estas pessoas vêm com seus dilemas e sofrimentos até nós (padres e diáconos) e tudo o que elas necessitam é de alento, orientações espirituais, de alguém que as escute e as ajude. Minha pretensão é isso, ser útil às pessoas, tanto daqueles que vêm até mim quanto daqueles que irei ao encontro, seja com suas questões espirituais (de religião) como, também, aqueles que mais necessitam materialmente. Ser útil para as pessoas!

Em Canguçu, quando foi que iniciou sua participação na Igreja Católica?

Nasci em Canguçu. Meus pais eram do interior, mas vieram para a cidade quando jovens. Estudei nos colégios públicos da cidade, Escola Irmãos Andradas e Escola João de Deus Nunes. No Ensino Médio foi quando comecei a fazer o acompanhamento com os padres da paróquia de Canguçu. Eles me perguntaram se eu queria ser padre e aquela pergunta me inquietou.

Procurei ir conversando com eles, buscando entender os desígnios de Deus através da oração. Em 2013, ingressei no seminário permanecendo durante todo ano, já em Pelotas, e, depois (2014), iniciei o curso de Filosofia e auxiliava em uma paróquia. Em 2017, comecei a faculdade de Teologia, e é neste período que o seminarista deve aplicar tudo aquilo que estudou na vida, na realidade paroquial, na qual acontecem as práticas pastorais.

Acompanhei grupos de jovens, equipe de coroinhas e catequese. Em 2020, comecei a atuar em uma paróquia de Piratini para suprir necessidades que lá existiam.

Qual a sua atuação neste momento?

Neste último ano de 2021 voltei para Pelotas para preparar a ordenação diaconal, momento em que o candidato recebe o sacramento da ordem, pelo qual entrega sua vida inteiramente a Deus e a Igreja, tendo o diácono a missão de auxiliar nas Missas, de pregar a Sagrada Escritura e no serviço da caridade, cuidando daqueles que mais necessitam.

Neste momento sou um diácono transitório, ou seja, estou diácono e pretendo me tornar padre, mas também existem os diáconos permanentes que são casados e tem família. Dentre as minhas atividades, atuo na orientação dos novos seminaristas, aqueles que estão entrando no seminário e, aos finais de semana, auxilio na paróquia Santo Antônio, no bairro Laranjal, em Pelotas.

 

“Atuo na orientação dos novos seminaristas, aqueles que estão entrando no seminário” (Foto: Elison Bitencourt)

Qual o seu conselho para os jovens que tiverem pretensões de serem padres?

Se um jovem se sente chamado a ser padre, é importante buscar ajuda com aquele que já tem experiência, que tem maturidade e que pode orientar e aconselhar para ver qual é, de fato, a vontade de Deus.

O primeiro passo que se dá é apresentar-se ao padre de sua paróquia que irá acompanhar e ajudar o candidato a fazer um caminho, a ter uma vida interior, de oração para perceber o que é ou não vontade de Deus, o que é necessário melhorar na vida cristã para assim, aprofundar esse discernimento vocacional e, se for o caso, ingressar no seminário.

Existem formações específicas aos candidatos? 

Assim como cada pessoa é única, cada um que chega ao seminário tem uma história de vida, vem de uma realidade, de uma cultura, tem seus gostos e preferências. O seminário tem o papel de formar cada um, buscando aprimorar as qualidades e melhorar aquilo que ainda precisa amadurecer e progredir na vocação.

Para isso, o seminarista (candidato) é formado em cinco dimensões: a dimensão espiritual (oração e zelo pelas coisas de Deus), dimensão intelectual (dedicar-se ao estudo, o que inclui duas faculdades -filosofia e teologia), dimensão comunitária (relação com os irmãos seminaristas -somos uma família!- e com as pessoas da comunidade), dimensão humano-afetiva (conhecimento de si, de suas qualidades e fraquezas, de crescimento nas virtudes e valores humanos), e a dimensão pastoral (acompanhando a vida de uma paróquia ou comunidade, sendo presença de Cristo nestes meios).

“Todas as pessoas possuem um caminhar diferente de vida” (Foto: Elison Bitencourt)

Como você se sente representando Canguçu neste espaço?

Me sinto muito contente. Ser padre não é a decisão da maioria dos jovens, nem daqui da cidade, nem de outras cidades. Me sinto muito feliz em ser canguçuense e poder trabalhar aqui na região, dar a vida para servir o Povo de Deus.

O seu objetivo é permanecer em sua paróquia de origem?

Isso nós não decidimos. Somos designados sempre de acordo com a necessidade das paróquias da região. O arcebispo realiza essa designação para qual cidade seremos encaminhados

Existe algum sonho de atuação dentro da Igreja?

Meu maior desejo é o desejo de Jesus, que todos sejam um! O desejo da unidade, da comunhão, que passa por uma verdadeira conversão a Deus, deixando as minhas preferências e gostos e mentalidades para termos uma autêntica vida cristã.

Gostaria de deixar uma mensagem para os leitores do Canguçu Online?

Diz a Sagrada Escritura, “Com amor eterno te amei” (Jeremias 31, 3). Lembrem-se que Deus ama a cada um de nós, ele nos deu a vida, nos concede a sua graça e seus dons.

A maior expressão do amor de Deus por nós foi na Cruz, quando morreu e se entregou por cada um de nós, para nos dar uma vida nova. Aprendamos com Cristo a amar, amemos a Deus com todo nosso ser, e a nossos irmãos, sendo sinais d’Ele no mundo.

“Deus ama a cada um de nós, ele nos concede dons, a vida, morreu e se entregou a cada um de nós” (Foto: Elison Bitencourt)