Coluna Dom Jacinto Bergmann: as verdades do bambu e a pandemia
Talvez muitos conhecem a fábula, bastante divulgada, denominada como “As Sete Verdades do Bambu”. Neste tempo pandêmico, ela vinha seguidamente à minha lembrança e sempre a relacionava à experiência singular da pandemia. Perguntava-me: qual é a incidência das “sete verdades do bambu” para essa experiência? Mesmo conhecida, é bom lembrar o lugar e as personagens […]
Talvez muitos conhecem a fábula, bastante divulgada, denominada como “As Sete Verdades do Bambu”. Neste tempo pandêmico, ela vinha seguidamente à minha lembrança e sempre a relacionava à experiência singular da pandemia. Perguntava-me: qual é a incidência das “sete verdades do bambu” para essa experiência?
Mesmo conhecida, é bom lembrar o lugar e as personagens da fábula: “Depois de uma grande tempestade, o menino que estava passando férias na casa do seu avô, chamou-o para a varanda e falou: ‘Vovô, corre aqui! Me explica como esta figueira, árvore frondosa e imensa, que precisava de quatro homens para abraçar seu tronco, se quebrou, caiu com o vento e com a chuva, e… este bambu tão fraco continua de pé?’ ‘Filho – respondeu o avô – a figueira caiu porque ficou com o seu orgulho de não se curvar na hora da tempestade’. Então, o avô enumerou ‘as sete verdades do bambu’”.
Trago presente estas “sete verdades do bambu” e procurarei aplica-las à experiência existencial da humanidade em situação de pandemia. Certamente, também as “sete verdades do bambu” deverão ser reaprendidas e acolhidas.
Primeira verdade: “O bambu é humilde em curvar-se”. A pandemia está ensinando a verdade da existência de uma Força maior: Deus é o Senhor da criação e da história. O orgulho da humanidade de negar e enfrentar a Deus, faz cair.
Segunda verdade: “O bambu tem raízes profundas”. A pandemia está ensinando a verdade da necessidade de raízes humanas profundas: a pessoa humana tem uma dignidade absoluta – é “imagem de Deus”. O desenraizamento de nossa dignidade humana-divina, faz cair.
Terceira verdade: “O bambu não cresce sozinho”. A pandemia está ensinando a verdade da comunhão humana: A pessoa humana se realiza somente no amor – é “semelhança de Deus”. O egoísmo idolátrico, faz cair.
Quarta verdade: “O bambu não cria galhos”. A pandemia está ensinando a verdade das realidades essenciais sem “perda de tempo com galhos secundários”: o gênero humano tem sua meta no Outro – “imagem de Deus” – e sua configuração é com os outros – “semelhança de Deus”. O secundário transitório, faz cair.
Quinta verdade: “O bambu é cheio de nós” (como ele é oco, sem nós seria fraco!). A pandemia está ensinando a verdade da união de forças: as pessoas humanas são feitas “nós” – unidos somos divinos – em superação dos “eu’s” – divididos somos diabólicos. A fraqueza dos “eu’s” sem a fortaleza dos “nós”, faz cair.
Sexta verdade: “O bambu é oco-vazio de si mesmo”. A pandemia está ensinando a verdade do esvaziamento – “kenosis”, na linguagem bíblica – de si mesmo: o ser humano só é pleno com a luz do Espírito de Deus. O cheio de si mesmo não esvaziado e preenchido com o Espírito de Deus, faz cair.
Sétima verdade: “O bambu só cresce para o alto”. A pandemia está ensinando a verdade do horizontal “terreno” versado para o vertical “celeste”: a realização humana se completa e ganha sentido buscando o destino do “Alto”. A inquietação humana não preenchida pelo Deus Altíssimo. faz cair.
Acolher as “sete verdades do bambu”, nesta pandemia, é sabedoria.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas.