Dom Jacinto Bergmann: classe de amor
Em 2004, um jovem enviou-me uma estória com o título “Classe de Amor”. Após lê-la e ter ficado bem impressionado com o seu conteúdo, guardei-a. Vivendo (na Igreja Católica) o Mês Vocacional no Mês de Agosto, e, o Terceiro Domingo dedicado ao Dia dos Religiosos/as, emergiu da minha lembrança esta estória: havia relação da estória […]
Em 2004, um jovem enviou-me uma estória com o título “Classe de Amor”. Após lê-la e ter ficado bem impressionado com o seu conteúdo, guardei-a. Vivendo (na Igreja Católica) o Mês Vocacional no Mês de Agosto, e, o Terceiro Domingo dedicado ao Dia dos Religiosos/as, emergiu da minha lembrança esta estória: havia relação da estória com a vida consagrada a Deus pelos religiosos/as.
A estória em questão é esta: “Um homem de idade já bem avançada veio à Clínica onde trabalho, para fazer um curativo na mão ferida. Estava apressado, dizendo-se atrasado para um compromisso, e enquanto o tratava perguntei-lhe sobre qual o motivo da pressa. Ele me disse que precisava ir a um asilo de anciãos para, como sempre, tomar o café da manhã com sua mulher que estava internada lá. Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha um Alzheimer bastante avançado. Enquanto acabava de fazer o curativo, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo fato de ele estar chegando mais tarde. – ‘Não’, ele disse. ‘Ela já não sabe quem eu sou. Faz quase cinco anos que não me reconhece’. Estranhando, lhe perguntei: – ‘Mas se ela já não sabe quem o senhor é, porque essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?’. Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse: – ‘É. Ela não sabe quem eu sou, mas eu contudo sei muito bem quem é ela’. Meus olhos lacrimejaram enquanto ele saía e eu pensei: Essa é a classe de amor que eu quero para a minha vida”.
Muitas pessoas já não sabem mais quem é Deus. A civilização humana, no século passado e na entrada deste século, soube desenvolver extraordinariamente a ciência e a técnica. Isso está nos planos do Criador que fez suas criaturas humanas “à sua imagem e semelhança” (cf. Gênesis), portanto, dotadas de inteligência e habilidades. Porém, em nome da ciência e da técnica, os humanos como “científicos” e “técnicos” desenvolvidos, ousaram rechaçar o Criador e foram-se colocando no lugar do Criador.
Usando uma imagem, a civilização humana ficou com “Alzheimer”: começou a não mais reconhecer a Deus. Mesmo assim, o Criador, intrinsicamente pleno de “con-(s)ciência” (ciência + com plenitude) e pleno de “con-técnica” (técnica + com plenitude), tem clareza: ‘A humanidade já não sabe mais quem eu sou! Mas todos os dias vou visitá-la, ela que foi tomada de ‘Alzheimer’”. Estranhando, perguntamos: ‘Mas se ela já não sabe mais quem é o Senhor Deus, porque essa necessidade de estar com ela todos os dias?’. Deus sorri e dando-nos uma “palmadinha” (será que a COVID19 não está sendo a “carinhosa palmadinha” do Criador às suas criaturas?) diz: ‘É. Ela não sabe quem eu sou, mas eu contudo sei muito bem quem é ela!’. Esta é a classe de amor do nosso Deus!
Então, tendo tudo isso presente, fica explícita a relação com os religiosos/as – esses homens e mulheres que se consagram totalmente a Deus para serem a presença do próprio Deus no meio da humanidade. Deixam tudo pelo voto de obediência, vivem disponíveis pelo voto de castidade e são desapegados pelo voto de pobreza, para serem essa presença de Deus. Mas, estranhando, porque ainda vivem essa presença de Deus nesta civilização humana que já não sabe quem é Deus? Sim, vivem a presença de Deus, porque sabem quem é Deus. Sabem que Deus é o Amor e que vale a pena a sua CLASSE DE AMOR.
Agora, é-nos fácil, olhar para o Dia dos Religiosos/as e parabenizar estes homens e mulheres que são e testemunham a presença de Deus na nossa civilização que “alzeimermente” já não sabe mais quem é Deus – o próprio Amor e sua Classe de Amor.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas.