Canguçu, domingo, 24 de novembro de 2024
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Estudo aponta impactos da pandemia na saúde e educação de crianças

A pandemia da covid-19 impactou a saúde e a educação de milhões de crianças e famílias, de acordo com a pesquisa Desigualdades e Impactos da Covid-19 na Atenção à Primeira Infância. O estudo, divulgado nesta quarta (21), mostra que no período de 2020 a 2021 houve queda no número de matrículas em creche e na […]


A pandemia da covid-19 impactou a saúde e a educação de milhões de crianças e famílias, de acordo com a pesquisa Desigualdades e Impactos da Covid-19 na Atenção à Primeira Infância. O estudo, divulgado nesta quarta (21), mostra que no período de 2020 a 2021 houve queda no número de matrículas em creche e na pré-escola, queda na vacinação e impactos na alimentação de crianças de até 6 anos de idade, período que compreende a primeira infância.

“A sociedade como um todo sente os impactos na primeira infância na medida em que é o começo da vida, essa etapa tão importante é a base para construir todas as habilidades e competências de cada criança como sujeito de direito. Se a gente tem a violação a direitos, uma maior exposição a fatores de risco e a situações de adversidade, a gente pode vir a ter futuros efeitos de longo prazo”, disse a diretora de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), Marina Fragata Chicaro.

A pesquisa foi realizada pela fundação em parceria com o Itaú Social e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O estudo baseia-se em dados dos ministérios da Saúde, da Educação (MEC) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e conta com o apoio da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas).

Foto: Prefeitura

Os pesquisadores aplicaram questionários relativos à saúde, educação e a aspectos socioeconômicos, e realizaram entrevistas com gestores e profissionais que atuam nessas áreas, em mais de 100 municípios de diferentes estados.

Os dados mostram que a pandemia aumentou em 54,5% a proporção de crianças muito abaixo do peso entre março de 2020 e novembro de 2021. No mesmo período, a proporção de crianças até 5 anos de idade incompletos abaixo do peso ou muito abaixo do peso foi de cerca de 4,3%. Entre março de 2020 e dezembro de 2021, a inflação de alimentos e bebidas das famílias com crianças até 6 anos de idade aumentou 63%, enquanto o aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de alimentos e bebidas para a população em geral, no mesmo período, foi de 5,4%.

Em relação à saúde, o estudo mostra que a aplicação das dez vacinas específicas da primeira infância terminou o ano de 2021 com cobertura inferior à registrada em 2019. A BCG – vacina contra tuberculose, cuja sigla significa Bacilo Calmette-Guérin -, por exemplo, tinha cobertura de 86,6% em 2019. Em 2021, caiu para 68,6%. Já a vacinação contra a poliomielite foi de 84,1% para 69,4% no mesmo período.

Outro estudo, divulgado em julho deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Unicef, mostra que, em todo o mundo, após 2 anos de pandemia, foi registrada a maior queda contínua nas vacinações infantis dos últimos 30 anos. O Brasil está entre os dez países no mundo com a maior quantidade de crianças com a vacinação atrasada.

“A pandemia teve um impacto muito grande nessa cobertura [vacinal]. Uma das prioridades para a área da saúde é certamente retomar esse calendário vacinal e recompor uma trajetória de alcance das metas que são preconizadas pelo Ministério da Saúde para que evite epidemias e até doenças que já foram extintas ou controladas”, defende Marina Fragata.

Na educação, os dados mostram que as taxas brutas de matrículas na educação infantil caíram entre 2019 e 2021, tanto na creche quanto na pré-escola. Nas creches, que atendem a crianças de até 3 anos de idade, a retração foi de 2,8 pontos percentuais, o que significou a diminuição de quase 338 mil matrículas no período. Já na pré-escola, a taxa bruta de matrículas ficou em 83,7% em 2021. De 2019 a 2021, a retração foi ainda maior do que na creche, registrando 4,1 pontos percentuais.

No Brasil, a educação é obrigatória a partir dos 4 anos de idade e, por lei, pelo Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil deveria ter universalizado essa etapa de ensino até 2016.

“Temos um risco de retrocesso de cobertura da educação infantil. Isso é real, tem sido alerta de especialistas e isso se confirmou nesses dados”, disse o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro Tiago Lisboa Bartholo, um dos pesquisadores convidados para o estudo na área de educação. “O papel central da escola, em especial da escola pública, é aumentar as oportunidades educacionais e impulsionar em especial as crianças em maior vulnerabilidade. Elas que se beneficiam mais”, disse.

Foto: Liziane Stoelben / Canguçu Online

Outro estudo do qual participou, em conjunto com outros pesquisadores, mostrou, com base em escolas do Rio de Janeiro, a queda da aprendizagem das crianças durante a pandemia, com o fechamento das escolas e a adoção de aulas remotas. As crianças aprenderam, em média, 65% do que geralmente aprendiam em aulas presenciais. Isso equivale a cerca de 4 meses de aulas perdidas. Crianças em situação de maior vulnerabilidade social aprenderam, em média, quase a metade (48%), do que seria esperado em aulas presenciais.

Segundo o pesquisador, a queda das matrículas deu-se, principalmente, nas escolas particulares. Pode ter ocorrido devido a perda de renda dos pais e responsáveis e até mesmo pelo fechamento das escolas diante da redução de alunos.

Os dados de 2022 deverão mostrar se houve uma recuperação dessas matrículas seja o setor privado ou no público.De acordo com a diretora de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Marina Fragata, um dos objetivos do estudo é o de chamar a atenção para os impactos da pandemia nessa faixa etária e oferecer informações e dados para subsidiar políticas públicas.

“A gente precisa pensar que, para reverter os efeitos da pandemia, a gente precisa de atuação coordenada de diferentes níveis, no federal, no estadual e nos municípios. A gente também precisa entender que cuidar da criança significa também cuidar de seus cuidadores, ou seja, das mães, que são a maioria. Tem muitas mães solos, mas também dos pais e cuidadores principais. Eles precisam estar inseridos nessas políticas e com acesso a serviços de qualidade”.

A Agência Brasil entrou em contato com os ministérios da Saúde e da Educação para comentarem a pesquisa, mas ainda não teve retorno.

A pesquisa está disponível na íntegra, na internet.

Fonte: Agência Brasil