Canguçu, segunda-feira, 25 de novembro de 2024
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IFSul destila bebidas alcoólicas para produzir álcool glicerinado e ajudar as instituições de saúde

Enquanto para muitos as últimas semanas têm sido para ficar em casa por causa do distanciamento social imposto pela pandemia de coronavírus, para outros a realidade tem sido bem diferente. Um exemplo é o grupo de servidores e alunos do IFSul que está atuando na produção de material de trabalho para os serviços de saúde […]


Enquanto para muitos as últimas semanas têm sido para ficar em casa por causa do distanciamento social imposto pela pandemia de coronavírus, para outros a realidade tem sido bem diferente. Um exemplo é o grupo de servidores e alunos do IFSul que está atuando na produção de material de trabalho para os serviços de saúde no enfrentamento da Covid-19.

Entre as várias iniciativas, uma se destaca por ser inusitada: para destilar bebida alcoólica doada pela Receita Federal, alguns professores do instituto colocaram em atividade um alambique, no interior de Canguçu.

As bebidas doadas são provenientes de apreensões feitas nas ações de combate ao tráfico ou descaminho, geralmente por terem ingressado no país sem o devido pagamento dos impostos de importação ou por ultrapassarem a cota permitida. As milhares de garrafas seriam leiloadas em março, mas a atividade foi cancelada por causa das medidas de contenção do Coronavírus. Agora, terão uma destinação mais nobre. O álcool presente nas garrafas será separado a uma concentração de 70% e servirá para fazer a assepsia de ambulâncias, equipamentos e a própria higienização das mãos dos profissionais da saúde.

A saga do professor aposentado Wagner Gerber e seus colegas de instituição para viabilizar a destilação da bebida alcoólica doada ao IFSul bem poderia virar um filme. Contando com o apoio também de parceiros da iniciativa privada, o grupo partiu do zero e hoje consegue produzir diariamente mil litros de álcool 70%.

De acordo com o Wagner, que trabalhou por mais de 30 anos no IFSul antes de se aposentar, ele foi chamado por sua colega do curso de química do câmpus Pelotas, Nadja Dias da Costa, para que ajudasse a encontrar uma destilaria.

A tarefa não era fácil. Nas primeiras tentativas, Wagner encontrou portas fechadas. Muitos alambiques ou destilarias caseiras que ele sabia que existiam pelo interior de São Lourenço e Canguçu, segundo ele, fecharam as portas e venderam seu maquinário. Com a ajuda de uma ex-aluna, no entanto, conseguiu o contato de uma agroindústria familiar do interior de Canguçu, que tinha o equipamento, embora não em funcionamento. Com a ajuda de outros professores do instituto, peças foram produzidas e adaptadas para que o destilador fosse montado.

Segundo o professor, foram mais de mil quilômetros rodados em duas semanas. O cansaço físico e intelectual, garante, são compensados pela satisfação de ver a iniciativa dando resultados. O trabalho em equipe, com colegas de instituição dispostos a trabalhar noite adentro para resolver os gargalos da produção, demonstra no momento de crise o que acontece o ano inteiro no IFSul: o conhecimento científico e tecnológico sendo usado a serviço da sociedade.

Rede de solidariedade para viabilizar a iniciativa

Além de todos os esforços dos professores e técnicos do IFSul, o projeto precisou de muita ajuda externa também. Como mantém uma empresa após a aposentadoria, Wagner acionou seus companheiros da Rede de Suprimentos da Região Sul, que conta com 15 empresários.  “Montamos um fundo em dinheiro para as compras emergenciais em ferragem, alimentação de quem está trabalhando lá, e também contamos com mão de obra. Um empresário cedeu trabalhadores para abrir as tampas das garrafas, outro o eletricista e o encanador”, conta o professor. O IFSul terá o custo da energia elétrica e a lenha utilizada no processo.

Por que o álcool 70%?

O álcool, seja em gel, glicerinado ou líquido, tem ação germicida e capacidade para desestabilizar os vírus e as bactérias. Para essa finalidade, o grau alcoólico recomendado é 70%, condição que propicia a desnaturação de proteínas e de estruturas lipídicas da membrana celular, e a consequente destruição do microrganismo. Para a higienização das mãos, o álcool com gel ou glicerina ajuda a não haver desperdício, rendendo mais.

Informações: Ifsul.