Saudade e Tradição: A Canguçu carnavalesca de Arlindo Almeida
Reviva a tradição carnavalesca que marcou a história da cidade e a memória do “Bloco dos Bichos”
Durante o feriado de Carnaval, é impossível não refletir sobre as transformações dessa festa tão tradicional em nosso país. Canguçu, que já viveu dias de euforia e encantamento carnavalesco, guarda em sua memória a vivência vibrante de blocos que alegravam os salões da cidade, como o famoso “Bloco dos Bichos”, sob a coordenação do saudoso Arlindo Almeida.
A historiadora Miriam Zuleica, em seu blog, descreve com saudade a essência do Carnaval de Canguçu, que ao longo das décadas se tornou uma verdadeira celebração da cultura popular. Segundo Zuleica, o Carnaval local “era um momento de magia, onde as pessoas se entregavam à alegria, à dança e à fantasia”. Em seus textos, ela relembra a importância do Clube Harmonia e do Clube Recreativo América como cenários de festas memoráveis que marcaram gerações.

Foto: Arquivo Pessoal
O “Bloco dos Bichos”, fundado e coordenado por Arlindo Almeida, figura como um dos maiores símbolos dessa época. Arlindo, que nasceu em 23 de abril de 1925, em uma família numerosa de Canguçu, dedicou sua vida à comunidade local. Atuando em diversas funções, de enfermeiro a taxista, e ainda como um dos fundadores do Clube Recreativo América, ele sempre esteve envolvido com a cultura canguçuense.
A partir da década de 1960, Arlindo passou a se destacar na organização de eventos carnavalescos, sendo o responsável pelo “Bloco dos Bichos”, que contava com a participação ativa de figuras como Manoel e Paulinho, além de uma legião de foliões que se reuniam para celebrar o Carnaval com alegria e irreverência.

O historiador e presidente da ACANDHIS (Academia Canguçuense de História), Cel. Cláudio Moreira Bento, recorda com carinho da época em que Arlindo era presença constante nos carnavais da cidade: “Ele era o pilar do Carnaval de Canguçu. Seu compromisso com a festa, com o bloco, e com a alegria do povo era algo contagiante. Não havia quem não se encantasse com a animação de Arlindo e de seu bloco.”
Além do “Bloco dos Bichos”, diversos outros blocos marcaram a história do Carnaval canguçuense, como o Sacarrolha, o Rebu e o “Deixa Falar”, criado em 1989, que ficou por anos como um dos blocos mais queridos da cidade. A fusão entre as tradições do Carnaval de rua e as inovações dos novos blocos manteve viva a chama dessa festa tão esperada.

O filho de Arlindo, Luiz Paulo Barbosa Almeida, também tem suas memórias afetivas e, em breve, compartilhará com os leitores do Canguçu Online um depoimento especial sobre o legado de seu pai e a importância do Carnaval na história de Canguçu:
“Para mim, o Carnaval de Canguçu sempre foi sinônimo de alegria e união, especialmente pelas lembranças que guardo do meu pai, o Arlindo Almeida. Desde cedo, ele sempre foi o responsável pelo ‘Bloco dos Bichos’, uma das maiores tradições carnavalescas da nossa cidade. Eu cresci vendo meu pai ser o coração do Carnaval canguçuense, com sua liderança contagiante e seu amor pela festa. Lembro-me de como ele se dedicava para que cada detalhe fosse perfeito. O que mais me impressionava era ver como ele se conectava com cada pessoa que fazia parte da festa. O Carnaval não era apenas um evento para ele, mas uma maneira de unir a comunidade, de fazer com que as pessoas se sentissem parte de algo maior.”
Luiz Paulo Barbosa Almeida, filho de Arlindo.

O que restou daquele fervoroso Carnaval do município é agora um legado de saudade e nostalgia. Para muitos, o “Bloco dos Bichos” e os tradicionais bailes de salão que aconteciam no Clube Harmonia e no Clube Recreativo América representam uma época de ouro. Ao relembrarmos esses momentos, cabe a nós preservar essa memória cultural, que é parte essencial da identidade da nossa cidade.

O legado de Arlindo Almeida: uma história viva no coração de Canguçu
E o autor desta matéria não poderia deixar de mencionar o legado de Arlindo Almeida, mesmo sem tê-lo conhecido pessoalmente. O impacto de sua figura e sua contribuição para o Carnaval de Canguçu atravessaram gerações, e são sentidos até hoje nos relatos de quem viveu aqueles momentos de alegria e união.
Embora eu, como neto, não tenha tido o privilégio de vê-lo à frente do ‘Bloco dos Bichos’, é impossível não perceber a força de seu legado nas palavras daqueles que o conheciam e na memória coletiva da cidade. A tradição do carnaval canguçuense, com sua energia contagiante, segue viva, e a influência de Arlindo permanece pulsando no coração de Canguçu.

Ele não é apenas uma figura do passado, mas uma presença que continua a inspirar e a unir a comunidade, sendo lembrado com carinho e respeito por todos que entendem a importância de sua dedicação à cultura local.