Segundo especialistas, uso de antibióticos na pecuária preocupa saúde animal e humana
Com apoio da Agência USP de Inovação (Auspin), um grupo de pesquisadores desenvolveu a patente Novo tratamento para endometrite sem uso de antibióticos. “O diferencial é que este produto é um biomaterial e não causa resíduos no animal, isto é, diferentemente do antibiótico, ele pode ser administrado”, explica Lilian Gregory, professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia […]
Com apoio da Agência USP de Inovação (Auspin), um grupo de pesquisadores desenvolveu a patente Novo tratamento para endometrite sem uso de antibióticos. “O diferencial é que este produto é um biomaterial e não causa resíduos no animal, isto é, diferentemente do antibiótico, ele pode ser administrado”, explica Lilian Gregory, professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
A endometrite é uma inflamação causada por infecção uterina resultante da entrada de bactérias no corpo. No caso de animais ruminantes, a enfermidade causa infertilidade e afeta diretamente a produção e a reprodução animal, exigida irresponsavelmente em sistemas de criação intensivos. Segundo Lilian, os derivados, como a carne e o leite podem ser consumidos imediatamente após a aplicação do produto no animal.
O medicamento é inócuo e abrange benefícios de propriedades absorventes, cicatrizantes, antissépticas e analgésicas. Sua composição argilosa, por exemplo, ajuda no controle de possíveis processos de infertilidade. O produto também tem liberação controlada, ou seja, o tratamento não é diário. Colocado dentro do útero, o princípio ativo do produto é liberado um pouco de cada vez, elabora a professora.
“Se pensarmos em uma fazenda que possui mil animais criados a pasto, teremos que encontrar este animal doente todos os dias, trazer para o curral e realizar o tratamento. Este manejo é complicado e causa estresse ao animal”, conclui.
A patente teve envolvimento do Departamento de Clínica Médica da FMVZ, com Lilian e Bruno Leonardo Mendonça Ribeiro, e do Departamento de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica da USP, com Francisco Valenzuela e Margarita Bobadilla.
O histórico de controle à resistência a antibióticos
Em 2018, o Parlamento Europeu aprovou uma proposta de regulação no uso de antibióticos em animais. Quatro anos depois, a União Europeia proibiu o uso indiscriminado desses medicamentos na criação animal em fazendas, em razão da contenção da proliferação de superbactérias.
Em janeiro de 2020, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento proibiu a importação, fabricação, comercialização e o uso de aditivos de três antibióticos em todo território nacional. Atualmente, só permite dois: bacitracina e virginiamicina.
Diante da resistência antimicrobiana, a saúde animal e humana é colocada em risco. Os tratamentos médicos nos animais são dificultados, tendo em vista que a principal finalidade é a promoção de crescimento, sobretudo em condições sanitárias inadequadas e em espaços de confinamento em alta densidade. Pelo lado dos humanos, além do elevado consumo desses animais, a transmissão de doenças no rebanho animal tende a passar para a população. a exemplo da influenza A/H1N1, conhecida como gripe suína.
Por Tulio Gonzaga/Jornal da USP