Canguçu, sábado, 23 de novembro de 2024
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Equilíbrio no sistema silvipastoril promove benefícios a propriedades rurais

Unidades produtivas que têm apostado na integração de pecuária e floresta, com resultados positivos em termos de produção, estão sendo visitadas pela coordenação do Comitê Gestor Estadual do Plano ABC+, que está em fase de reativação. A ideia é identificar no Estado propriedades que sirvam de modelo dentro do contexto da Agricultura de Baixa Emissão de […]


Unidades produtivas que têm apostado na integração de pecuária e floresta, com resultados positivos em termos de produção, estão sendo visitadas pela coordenação do Comitê Gestor Estadual do Plano ABC+, que está em fase de reativação. A ideia é identificar no Estado propriedades que sirvam de modelo dentro do contexto da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) e que possam ter suas experiências replicadas nas diversas regiões produtivas do Rio Grande do Sul.

O engenheiro florestal do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), Jackson Brilhante, que está na coordenação do Comitê Gestor, conheceu, nas últimas semanas, sistemas implantados em Bagé e em Vale Verde. Em ambos os casos, aderiu-se o sistema silvipastoril, que é uma opção tecnológica de consórcio de lavoura-pecuária-floresta (consiste na combinação intencional de árvores, pastagens e gado numa mesma área e ao mesmo tempo).

Brilhante explica que os sistemas silvipastoris têm proporcionado novas fontes de renda aos produtores, com a madeira, e conforto térmico para os animais, por conta da sombra gerada pelas árvores. Além disso, há uma série de outros benefícios como melhoria na qualidade do solo, na ciclagem de nutrientes, controle de erosão e aumento da matéria orgânica do solo. “A inclusão de árvores nos sistemas agropecuários, em especial as de rápido crescimento, como os eucaliptos, potencializam a remoção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, o que gera um saldo positivo de carbono e evidencia a capacidade desses sistemas para a mitigação de gases de efeito estufa”, destaca o engenheiro florestal.

Harmonia entre campo nativo e a floresta

Em maio, Brilhante visitou uma unidade demonstrativa na Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, na Zona Sul do Estado, onde se colocou em prática o sistema silvipastoril com eucalipto. Este modelo é acompanhado pelo pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Helio Tonini. Ele conta que, a partir de 2012, iniciou-se um projeto no município com 15 pecuaristas familiares, a fim de propiciar uma nova experiência aos produtores com a silvicultura no campo nativo. O trabalho contou com financiamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e foi acompanhado por um conjunto de instituições, entre elas, a Embrapa e a Emater/RS-Ascar.

Em Bagé, pecuaristas familiares participam desde 2012 de um projeto de silvicultura, com eucalipto, no campo nativo
Em Bagé, pecuaristas familiares participam desde 2012 de um projeto de silvicultura, com eucalipto, no campo nativo – Foto: Fernando Dias/Seapdr

Tonini conta que a intenção foi desenvolver um sistema que equilibrasse a criação de gado de corte, o campo nativo e o ciclo do eucalipto. Entre 2019 e 2021, em uma segunda fase do projeto, dados foram coletados sobre a integração destes componentes. Descobriram-se alguns benefícios. Um dos retornos positivos, segundo o pesquisador, foi a comercialização da madeira gerada pelo raleio (desbaste) das árvores, acrescentando uma fonte de renda aos produtores.

Outro resultado observou-se sobre a qualidade do alimento ofertado para o gado. “A silvicultura ajudou a forragem a permanecer mais verde tanto no inverno quanto no verão”. Em função da melhoria nas condições do campo, Tonini diz que o sistema pode acarretar em aumento da produtividade dos animais, embora não tenha havido medição desse quesito nas propriedades integrantes do projeto.

Outra vantagem do modelo silvipastoril é a mitigação da emissão de carbono que se consegue a partir do tipo de solo, do espaçamento entre a linha de árvores, do material genético usado e do manejo adequado. “Isto significa que, com o uso do eucalipto, os pecuaristas familiares estão sequestrando carbono acima da taxa de lotação das áreas normalmente usadas no Pampa (em torno de 1 animal por hectare)”, acrescenta.

O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul orienta os produtores rurais interessados em adotar sistemas de integração de culturas a procurarem por capacitações e assistências técnicas. “É necessário fazer intervenções e adotar manejos adequados para evitar colocar todo o sistema em risco. A palavra é equilíbrio”, recomendou.

Mais sombra, menos adoecimento do rebanho

Outra propriedade visitada pelo engenheiro florestal da Seapdr foi a do produtor Marcos André Thiesen, que trabalha com bovinocultura de leite, pastagens e cultivo de tabaco no município de Vale Verde, Vale do Rio Pardo. O sistema de produção silvipastoril começou a ser implantado na sua área de terras há 4 anos, com ajuda técnica da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), da qual Thiesen é associado.

Eucaliptos foram implantados na propriedade, em pontos estratégicos, para gerar sombra nas áreas em que o gado leiteiro pasteja. O produtor conta que o plantio de árvores resultará em ganhos econômicos mais à frente, mas uma das grandes contribuições que ele já diz notar é a melhoria da sanidade do rebanho. “Na minha propriedade tinham poucas árvores e as vacas acabavam deitando em um único espaço de sombra que existia. Se uma vaca estava doente, transmitia para as outras. Agora, tem mais sombra na área de pastagem e elas se espalham. Aumentou o bem-estar e diminuiu a incidência de mastite”, relata. Com mais conforto térmico, as vacas também consomem mais pasto e, consequentemente, tem mais condições de ampliar a produção.

Brilhante (d), da Seapdr, esteve em Vale Varde, com Juarez da Afubra, o produtor Marcos e Cleiton Calheiro, da Afubra
Brilhante (d), da Seapdr, esteve em Vale Varde, com Juarez da Afubra, o produtor Marcos e Cleiton Calheiro, da Afubra – Foto: Fernando Dias/Seapdr

Thiesen plantou 400 mudas de eucalipto em uma área de 1,8 hectare. Em outro espaço cultiva a fumicultura. Recomenda que os produtores interessados busquem apoio técnico para fazer a integração. “É importante saber onde plantar as árvores para que, em algum momento do dia, a pastagem possa receber a luz solar e se desenvolver”, atenta. O produtor diz estar satisfeito com a experiência por ela também ser uma prática recomendada para redução de emissão de carbono. “Acredito que temos que procurar fazer algo pelo meio ambiente. Não posso só pensar no que recebi do meu pai. Eu tenho que saber o que quero entregar para os meus filhos amanhã”, reforça.

O gerente de produção agroflorestal da Afubra, Juarez Iensen Pedroso Filho, que ajudou a introduzir a integração de culturas na propriedade de Thiesen, diz que a ideia é que a área dele sirva de modelo para outras regiões produtoras de tabaco. “Esta propriedade está rompendo paradigmas, porque consorcia em uma mesma área mais do que um componente produtivo, com potencial para gerar mais fontes de renda para o produtor e proporcionando ganho ambiental, de conservação de solo e água”, avalia Pedroso Filho.

O gerente de produção agroflorestal explica que a integração de culturas em uma mesma gleba, algo preconizado pelo programa ABC, harmoniza o ambiente. “O sistema é vantajoso porque a árvore vai crescendo e os animais continuam com oferta alimentar, tendo incremento de produtividade, sem comprometer os recursos naturais”. Pedroso diz que ainda não foram calculados os níveis de sequestro de carbono na propriedade. No entanto, acredita que os resultados já são mensuráveis. “É um trabalho de 4 anos e as árvores que foram implantadas já ajudam a reduzir o escoamento superficial da água da chuva, mitigam a erosão e já ‘devolvem’ folhas, cascas, galhos, incorporando nutrientes no solo e resultando na pegada de carbono”, acrescenta.

Pedroso também conta que a Afubra iniciou, em 2017, outra experiência envolvendo a silvicultura e pecuária. Em uma propriedade rural, em Sobradinho, também Vale do Rio Pardo, os técnicos da Afubra orientaram que o produtor fizesse um desbaste nos eucaliptos existentes, o que possibilitou a entrada de mais luz na floresta e a introdução de forrageiras na área. “É um modelo que também é possível. Como temos muitas pequenas propriedades na região, acaba se tornando interessante por possibilitar que o produtor torne o sistema mais produtivo ao agregar animais no ambiente”, diz.

Fonte: Secretaria da Agricultura do RS