Campanha Fevereiro Laranja alerta sobre a leucemia
Prestes a completar 7 anos no próximo dia 26, o estudante Matheus Vinicius Caetano Amaral já pode dizer que é vencedor de um tipo de câncer que acomete as crianças. Ele tinha apenas dois anos quando os pais receberam o diagnóstico da Leucemia Linfóide Aguda (LLA). “Nenhuma mãe imagina receber o diagnóstico de leucemia. Matheus […]
Prestes a completar 7 anos no próximo dia 26, o estudante Matheus Vinicius Caetano Amaral já pode dizer que é vencedor de um tipo de câncer que acomete as crianças. Ele tinha apenas dois anos quando os pais receberam o diagnóstico da Leucemia Linfóide Aguda (LLA).
“Nenhuma mãe imagina receber o diagnóstico de leucemia. Matheus nasceu prematuro de 31 semanas, e quando estávamos superando a prematuridade, descobrimos a leucemia. No primeiro momento perdemos o chão. Mas depois, graças a Deus, à doutora Ana Luiza, que é um anjo em nossas vidas, e toda a equipe de profissionais que nos assistiram, vimos que era possível superar a doença com muito amor, fé e dedicação”, contou, emocionada, a mãe do Matheus, a nutricionista Gislaine Caetano, de Curitiba (PR).
O tratamento do Matheus teve duração de dois anos e meio. “Devido ao diagnóstico precoce e a ele responder bem ao tratamento, não houve indicação de transplante de medula óssea (TMO), mas foi realizado um tratamento intenso e doloroso cujo protocolo seguia a combinação de quimioterápicos”, revelou Gislaine.
Cada quimioterapia era um passo para vencer a doença, detalha a mãe do Matheus. “Sempre comemoramos cada quimioterapia realizada, cada pequeno progresso, sempre mostrando ao Matheus algo de positivo em meio ao mundo oncológico, sempre em contagem regressiva para o término do tratamento, agradecendo sempre. Hoje agradecemos porque Matheus superou a doença e tudo o que passamos nos tornou mais gratos. Hoje vivemos mais intensamente e comemoramos cada pequeno detalhe do que é a vida”.
Matheus está em remissão total desde setembro de 2019, e faz exames de acompanhamento a cada dois meses, antes eram mensais. “Mas já acreditamos na cura plena!”, comemora a nutricionista.
O Matheus não precisou de transplante de medula óssea, mas muitas crianças precisam, por isso para conscientizar sobre a patologia e estimular para que mais pessoas se tornem doadoras de medula óssea, todo ano, o mês de fevereiro é dedicado à campanha Fevereiro Laranja.
A cor laranja foi escolhida para simbolizar a conscientização sobre a leucemia e a importância dos doadores de medula óssea.
A leucemia é um tipo de câncer que tem origem na medula óssea, onde são produzidas as células do sangue. As células leucêmicas, da medula, atingem o sangue e infiltram os gânglios linfáticos, o baço, o fígado, o sistema nervoso central, os testículos e outros órgãos.
Na criança que desenvolve leucemia, essas células se tornam anormais, não realizam suas funções e se multiplicam rapidamente, tomando o lugar das células saudáveis na medula e no sangue.
Fatores
A oncologista pediátrica Ana Luiza de Melo Rodrigues, médica do Matheus, explica que os fatores de risco e prognósticos para a LLA são a idade da criança no diagnóstico, a contagem de leucócitos (células de defesa) no hemograma, além dos exames como imunofenotipagem e cariótipo, que revelam o comprometimento do sistema nervoso central ao diagnóstico e resposta precoce à terapia.
No caso da leucemia mieloide aguda (LMA), são fatores de risco: exposição pré-natal (ao álcool, pesticidas e infecções virais), exposição ambiental (radiação ionizante, infecções virais, pesticidas, solventes orgânicos como o benzeno, dentre outros), além de doenças hereditárias e doenças adquiridas.
Sintomas e sinais das leucemias
Nas leucemias agudas infantis, geralmente os sintomas são cansaço, palidez, aumento do abdome por hepatomegalia (fígado aumentado de tamanho) e/ou esplenomegalia (baço aumentado de tamanho), dor óssea, linfadenopatia (aumento dos linfonodos, em especial na região cervical), febre (em consequência de infecções), petéquias (pontos vermelhos no corpo, que não somem quando pressionadas), hematomas, sangramentos – em especial de gengiva e nariz -, hipertrofia gengival, nódulos e infiltrações cutâneas.
O oncologista pediátrico tem papel fundamental no tratamento da criança. “Cabe ao oncologista gerenciar o atendimento ao paciente durante todo o curso de sua doença e isso já começa com o diagnóstico, ao explicar sobre a doença, o estágio, as formas de tratamento, as opções e como deverá ser conduzido, para que se obtenha o melhor prognóstico. Ele vai guiar a família e a criança pelo caminho que vai do diagnóstico até a cura”, pontua a médica, que é coordenadora do Grupo de Estudos de Leucemia Mielóide Aguda Infantil da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica e do Protocolo Brasileiro para tratamento de Leucemia Mieloide (Sobope) aguda em crianças e adolescentes e professora de Hematologia do Curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Tratamento
A quimioterapia é o tratamento-padrão para as leucemias infantis, explica Ana Luiza, que atende no Centro de Oncologia do Paraná (COP), onde Matheus faz o acompanhamento.
“A quimioterapia é administrada por via oral, intravenosa, intramuscular ou intratecal, quando o remédio é injetado no líquido cefalorraquidiano. A medicação, ou combinação de drogas, cai na corrente sanguínea e atinge todas as áreas do corpo”.
Segundo a médica, para algumas crianças com leucemias de alto risco, a quimioterapia em altas doses pode ser administrada junto com o transplante de medula óssea. Outros tipos de tratamentos, como cirurgia, radioterapia, terapia-alvo, imunoterapia, quimioterapia de alta dose e transplante de células-tronco são utilizados em circunstâncias especiais.
Além da parte física, o tratamento psicológico é fundamental para cuidar da parte emocional da criança e da família. Entender como será o tratamento, de forma lúdica, contribui para a evolução e reflete na recuperação, como explica a psicóloga Michelle Servelhere, do Centro de Oncologia do Paraná:
“As atividades lúdicas servem como um grande facilitador de aproximação da criança com seu cotidiano. Para a criança que está passando pelo tratamento, é muito importante o brincar, o lúdico. A brincadeira é um meio utilizado para aproximar a criança com a sua vida normal. Ela faz essa essa reintegração, ela vai restabelecendo a sua condição de ser criança e descobre também a si mesma. Alguns estudos também apontam o brincar como um recurso para estimular as principais funções cognitivas. Os resultados promovem melhora no humor, reduz a ansiedade, o choro e também melhora o enfrentamento da doença”.
Os pais também precisam devem ter acompanhamento psicológico, indica a profissional. “Os pais com certeza precisam buscar um acompanhamento e um suporte psicológico, não tem como fugir disso. Cada um trabalhando na sua terapia, não é em casal, não é trabalhar os pais como casal, e sim cada um na terapia individualmente”.
Para os pais que estão passando por esta fase, com filhos em tratamento contra o câncer, a Gislaine, mãe do Matheus, tem um conselho. “Aos pais que estão passando pelo mundo da oncologia, eu não sei o motivo pelo qual passamos por isso, mas sei que fomos especialmente escolhidos para cuidar dos nossos pequenos guerreiros, e podemos aprender muito com o mundo da oncologia, principalmente a viver a vida como ela deve ser vivida, com muito amor e intensidade. Tenham fé porque é no impossível que os milagres acontecem”.
O carinho da equipe médica também fundamental, acredita a oncologista Ana Luiza. “Tem uma frase que gosto muito que é sobre o dever do médico: ‘Curar às vezes, aliviar muito frequentemente e confortar sempre’ [Oliver Holmes]. Ao escolhermos a medicina como profissão, devemos saber de antemão ser esta uma área onde há necessidade de grande comprometimento e responsabilidade, pois o nosso principal instrumento de trabalho é o ser humano, a vida”.
E a vida do Matheus foi tão bem acolhida pela médica que o Matheus vai fazer parte de um momento importante da vida da Ana Luiza. Ela vai se casar em abril e Matheus vai ser o pajem. Livia, outra paciente curada, vai ser a dama de honra. “É muito amor de ambas as partes”, frisou a oncologista.
Vida após o tratamento
Periodicamente devem ser feitas reavaliações através de exames e consultas, por no mínimo cinco anos após o último dia de tratamento. “Isso porque consideramos uma criança curada, quando ela completa cinco anos do último dia do seu tratamento. Pode ser que algum órgão tenha sido afetado pelo tratamento e essa criança tenha alguma sequela, nesses casos, muitas vezes é necessária reabilitação, medicamentos de uso contínuo e cuidados especiais.
Os cuidados psíquicos também continuam, lembra a psicóloga Michelle Servelhere Gizzi.
“Essa criança vai ficar com sequelas cognitivas da quimioterapia, então é muito importante que essa criança tenha um acompanhamento neuropsicológico através de testes, justamente para que se possa aferir quais foram as deficiências e as sequelas cognitivas. No período escolar, é importante uma assistência integral e também o monitoramento do seu desenvolvimento escolar, justamente para que essas dificuldades possam ser minimizadas e a criança não sinta tanto o impacto”, enfatizou a especialista.
Taxa de sobrevida
A taxa de sobrevida é utilizada pelos médicos como uma forma padrão para discutir o prognóstico de um paciente com câncer. A taxa de sobrevida em cinco anos se refere à porcentagem de crianças que vivem pelo menos cinco anos após o diagnóstico da doença. Entretanto, muitas crianças vivem muito mais tempo do que cinco anos e muitas são curadas definitivamente.
“As taxas de sobrevida são, muitas vezes baseadas em resultados anteriores de um grande número de crianças que tiveram a doença, não sendo possível prever o que vai acontecer com cada criança individualmente. Conhecer o tipo de leucemia é importante na estimativa do prognóstico de cada criança. Muitos outros fatores podem afetar o prognóstico de uma criança, como idade, localização do tumor e como a doença está respondendo ao tratamento”, observou a oncologista.
Genética e leucemia
Certas doenças hereditárias podem aumentar o risco de leucemia, mas a maioria dos casos de leucemia em crianças não parece ser causada por mutações hereditárias. “Geralmente, as alterações do DNA relacionadas com a leucemia se desenvolvem após o nascimento, finalizou a médica.
Fonte: Agência Brasil