Cíntia Santos: Precisamos falar sobre suicídio
O século XXI está marcado por um quadro caracterizado como uma Pandemia Psicossomática (peste emocional).Problemas de toda ordem,depressão, ansiedade, transtornos de humor, dificuldades de aprendizagem, perda de memória, irritabilidade, falta de tolerância, ausência de conversa, falta de afeto, etc. Estamos diante um quadro que nos obriga a realizar um diagnóstico da situação. Nossa “Central de Emoções” necessita […]
O século XXI está marcado por um quadro caracterizado como uma Pandemia Psicossomática (peste emocional).Problemas de toda ordem,depressão, ansiedade, transtornos de humor, dificuldades de aprendizagem, perda de memória, irritabilidade, falta de tolerância, ausência de conversa, falta de afeto, etc. Estamos diante um quadro que nos obriga a realizar um diagnóstico da situação.
Nossa “Central de Emoções” necessita deletar todo o lixo emocional acumulado. A não liberação dos sentimentos, associado a ações precipitadas, motivadas por frustrações e rejeições, forma um ambiente propício para o adoecimento de nossas almas.
Surge aqui então um tema muito delicado, um tabu, mas que deve ser falado a fim de ser prevenido: o suicídio. Comportamento este que pode ser descrito a partir de um espectro de manifestações, tais como automutilação, ideias de morte, plano, tentativa e suicídio consumado. É um fenômeno social que constitui um grave problema de saúde pública, que resulta da interação de múltiplos fatores: biológicos, psicológicos, socioculturais e ambientais.
Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, é uma morte a cada 40 segundos. O Brasil é o 8º país com mais suicídios, com uma morte a cada 45 minutos, média de 32 suicídios por dia.
No Rio Grande do Sul, a taxa de suicídio representa uma média de três mortes a cada dia. Em relação ao indicador que mede o desempenho do suicídio, a taxa (a cada 100.000 habitantes) é de 10,6 no mundo, 9,8 nas Américas, 15,4 na Europa, 6,5 no Brasil e de 11,65 no Rio Grande do Sul. E dos 20 municípios brasileiros que têm os mais altos índices, 11 são gaúchos.
Mas sabe-se que os números podem ser muito maiores, pois a subnotificação é reconhecida. Além disso, os especialistas estimam que o total de tentativas supere o de suicídios em pelo menos dez vezes. O suicídio ocorre durante todo o curso de vida e foi a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos no último ano.
O fenômeno impacta não apenas os sobreviventes (familiares e pessoas próximas à vítima), como a comunidade em geral. De acordo com a OMS(Organização Mundial da Saúde), de 6 a 10 pessoas são diretamente afetadas pela perda, com prejuízos emocionais, sociais ou econômicos.
Embora a relação entre distúrbios suicidas e mentais (em particular, depressão e abuso de álcool) esteja altamente relacionada, vários suicídios ocorrem de forma impulsiva em momento de crise, com um colapso na capacidade de lidar com os estresses da vida – tais como problemas financeiros, términos de relacionamento ou dores crônicas e doenças.
Além disso, o enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e um senso de isolamento estão fortemente associados com o comportamento suicida. As taxas de suicídio também são elevadas em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados e migrantes; indígenas; comunidade LGBTI e pessoas privadas de liberdade.
O suicídio é uma questão complexa e, por isso, os esforços de prevenção necessitam de coordenação e colaboração entre os múltiplos setores da sociedade, incluindo saúde, educação, trabalho, agricultura, negócios, justiça, lei, defesa, política e mídia.
A OMS reconhece o suicídio como uma prioridade de saúde pública, e o governo do estado, alinhado às orientações da OMS instituiu através do Decreto n° 53.361, de 22 de dezembro de 2016, o Comitê Estadual de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio (RIO GRANDE DO SUL, 2016), em que também há a participação da sociedade civil.
ONDE BUSCAR AJUDA?
CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).
UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro, Hospitais;
CVV – Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita), chat ou e-mail no site.
O CVV — Centro de Valorização da Vida, fundado em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob totalsigilo e anonimato.
Os contatos com o CVV são feitos pelo telefone188 (24 horas e sem custo de ligação) ou pelo site www.cvv.org.br, por chat e e-mail. Nestes canais, são realizados mais de 3 milhões de atendimentos anuais, por mais de 3 mil voluntários do Brasil todo.
Além dos atendimentos, o CVV desenvolve, em todo o país, outras atividades relacionadas a apoio emocional, assim como a campanha Setembro Amarelo, que no Brasil foi criada em 2015juntamente com CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de conscientizar sobre a prevenção do suicídio e associar à cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro).
A OMSindica que nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas. A prevenção é fundamental para reverter essa situação, garantindo ajuda e atenção adequadas.A primeira medida preventiva é a educação, e o caminho é quebrar tabus e compartilhar informações. É preciso perder o medo de se falar sobre o assunto, esclarecer, conscientizar, estimular o diálogo e abrir espaço para campanhas contribuem para tirar o assunto da invisibilidade e, assim, mudar essa realidade.
Mas como buscar ajuda, se muitas vezes a pessoa sequer sabe que pode receber apoio e que o que ela sente naquele momento é mais comum do que se divulga? Ao mesmo tempo, como é possível oferecer ajuda a um amigo ou familiar se também não sabemos identificar os sinais e muito menos temos familiaridade com a abordagem mais adequada?
É fato que o suicídio é um fenômeno complexo, de múltiplas determinações, mas saber reconhecer os sinais de alerta pode ser o primeiro e mais importante passo.
Isolamento, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades de que gostava, descuido com aparência, piora do desempenho na escola ou no trabalho, alterações no sono e no apetite, frases como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer” podem indicar necessidade de ajuda.
Quem se mata, na realidade não quer acabar com a vida, ela está tentando se livrar da dor, do sofrimento, que de tão imenso, parece insuportável.
O mundo não é nada além de um relacionamento, estamos conectados uns com os outros.
Ninguém está livre de se sentir solitário, triste e com dor. A vida realmente não é fácil. Por muitas vezes precisamos de ajuda e não sabemos como pedir. Acredite, existem muitas pessoas dispostas a ajudar. Todas as dores podem ser superadas com ajuda ou tratamento.
SOBRE A AUTORA
O texto acima é uma colaboração de Cíntia Aline Santos com o Canguçu Online. Ela é graduada em Ciências Contábeis pela Unopar e atua como voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV).
Leia também:
> Canguçuense é voluntária do Centro de Valorização da Vida e ajuda pessoas em dificuldade