Estudo alerta sobre escovas de dentes fora dos padrões exigidos por lei
Pesquisadora investigou a qualidade de 345 escovas compradas em comércios do Estado de São Paulo; foram apontados problemas no formato do cabo e da cabeça e nas pontas das cerdas, entre outros.
Macia, com cabo reto e achatado, cabeça pequena (compatível com a idade do usuário), 18 tufos (contendo 80 cerdas em cada um), e 1.440 cerdas no total. Esses são os requisitos básicos para que uma escova de dentes manual cumpra o seu papel de garantir uma boa escovação sem causar danos aos tecidos da boca, segundo uma pesquisa da USP, que analisou 345 modelos do produto comercializados no Estado de São Paulo.
O estudo, liderado por Sônia Regina Cardim de Cerqueira Pestana, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, teve como objetivo identificar e analisar as normas e exigências técnicas para a produção e comercialização das escovas de dentes manuais, ou seja, para que o consumidor tenha acesso a um produto seguro, sem causar prejuízos à saúde e com características macro e microscópicas adequadas ao uso.
Na primeira parte do trabalho, a pesquisadora fez uma revisão integrativa da literatura, um método que sintetiza os resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. Nesta etapa, Sônia Pestana se deparou com duas normas brasileiras e 29 artigos sobre o tema.
Na etapa seguinte, a pesquisadora propôs um protocolo para avaliar as escovas adquiridas em 26 municípios do Estado de São Paulo, baseado na Portaria 97, de 1996, e na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 142 de 2017, normas vigentes à época em que a autora realizou o estudo (2018). Essas duas leis possuem alguns premissas semelhantes às técnicas preconizadas por Charles Bass, americano pioneiro no estudo das características das escovas dentais. Por isso, Sônia também se baseou no autor para elaborar seu protocolo de avaliação.
Nas análises macroscópicas, em que foram examinados o formato do cabo e o da cabeça, mais de 70% dos instrumentos foram considerados adequados ao uso. Em relação ao número total de cerdas, 63,5% estavam inadequados.
Por fim, “embora não ocorra análise prévia, é realizada a verificação contínua dos produtos por meio de amostragem, considerando ainda denúncias e atendimento de demandas específicas, as quais podem resultar em pedidos de adequação ou cancelamento da notificação, em caso de irregularidades. A depender do risco da irregularidade, a área de fiscalização pode, ainda, determinar a adoção de medidas cautelares/preventivas. Neste sentido, os resultados do estudo conduzido pela USP serão avaliados pela agência”.
Giuseppe Romito, professor titular da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, disse em entrevista que o governo e os órgãos de fiscalização trabalham basicamente a partir de queixas pessoais. “Se todos os dias tivéssemos reclamações registradas, teríamos mais demanda para a Anvisa ou para os órgãos competentes.”
O professor da FSP alerta que escovas inadequadas prejudicam as condições das gengivas e podem desgastar o esmalte dentário, em graus variados, desde desgastes clinicamente insignificantes até prejuízos mais importantes nas regiões dentárias próximas à dentina, no chamado colo dos dentes. “O uso eventual, por um curto período de tempo, pode não ter maiores consequências. Mas produtos inadequados, utilizados por vários meses, anos e mesmo décadas, podem ser altamente nocivos.”
Por: Fabiana Mariz / Jornal da USP