Canguçu, sábado, 23 de novembro de 2024
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Gripe aviária é uma preocupação, mas imunizantes já estão em fase experimental

Desde janeiro, a Organização Mundial da Saúde alerta para o perigo emergente da gripe aviária no mundo. No Brasil, segundo dados do Ministério da Agricultura, há 31 focos da doença, todos em aves silvestres. Com o aumento dos casos, já há a preocupação do Instituto Butantan com o desenvolvimento de um imunizante. “A gente começou em janeiro, […]


Desde janeiro, a Organização Mundial da Saúde alerta para o perigo emergente da gripe aviária no mundo. No Brasil, segundo dados do Ministério da Agricultura, há 31 focos da doença, todos em aves silvestres. Com o aumento dos casos, já há a preocupação do Instituto Butantan com o desenvolvimento de um imunizante.

“A gente começou em janeiro, no Instituto Butantan, a preparar algumas etapas importantes da produção de uma vacina contra a gripe aviária para deixar ela pronta, caso a gente comece a enfrentar uma crise sanitária, como aconteceu com a covid-19”, diz o professor Esper Kallás, da Faculdade de Medicina e diretor do Instituto Butantan. São estudadas duas cepas da H5N1 e uma da H5N8: “Começamos a fazer lotes experimentais da vacina e agora estamos fazendo os testes pré-clínicos. Devemos começar, até o fim do ano, um teste clínico para verificar se a gente consegue induzir uma resposta imune. Isso é o que a gente deveria ter feito corriqueiramente para as várias doenças que existem por aí, para não sofrermos as surpresas que a gente vivenciou durante a pandemia”, completa.

O que é a H5N1?

Muitos já devem ter escutado sobre a H1N1, a qual ocasionou uma pandemia em 2009, e relacionado com a H5N1. Kallás explica a semelhança entre esses nomes: “A gente classifica esses vírus de acordo com duas proteínas que tem na superfície deles: uma chamada hemaglutinina e a outra chamada neuraminidase, que recebem as siglas H e N. Explicando isso, as pessoas vão começar a familiarizar-se com alguns nomes que escutam quando médicos e cientistas falam a respeito”. Existem 16 tipos de hemaglutinina e 11 de neuraminidase.

 

A rápida transmissão de um país para o outro vem do fato desse tipo de vírus possuir uma maior afinidade com as aves: “Ele circula tão fácil porque existem muitas espécies de aves que são migratórias. Elas saem de um continente e vão parar no outro e isso permite que o vírus vá pegando carona. Se você pensar bem, se você fosse um vírus, você iria querer passear pelo mundo”, comenta o professor. E, quanto à variedade de “gripes aviárias”, a resposta está na capacidade de reassortment, ou seja, “embaralhamento”: “Eles são muito diversos porque o material genético deles é disposto como um deck de cartas quando você está jogando baralho. Cada um dos genes é equivalente a uma carta, por exemplo, eu tenho na minha mão um gene H1 e um gene N1, mas o que acontece é que, quando eles são transmitidos de uma ave para outra, eles podem sofrer o que a gente chama de embaralhamento. Você troca cartas de um vírus para outro”, acrescenta.

Preocupação

“Alguns são inofensivos para as espécies, que só pegam o vírus e levam por aí, mas outros são agressivos, chamados de altamente patogênicos”, explica Kallás. O H5N1 já é considerado um influenza de alta patogenicidade e, além do problema econômico ocasionado com a contaminação e morte de aves de granja, existe a preocupação com a possibilidade da transmissão entre humanos.

A ingestão de carne não é um meio de contaminação e não é comum que ele contamine humanos por conta da diferença genética entre eles. Porém, o vírus pode se adaptar a outros mamíferos e, depois, aos humanos: “Não é comum eles passarem das aves para os humanos diretamente, isso é uma coisa relativamente rara. Ela pode passar se você tem um contato muito, muito direto, mas, geralmente, o que acontece é que esse vírus costuma se adaptar a outra espécie de mamífero. Assim, ele vai ganhando características de transmissão entre mamíferos e depois passa para os humanos. Dentro dessa cadeia, um dos mamíferos que traz mais preocupação é o porco, isso porque o genoma do porco começa a ser um pouco mais próximo do humano”, alerta o especialista.

 


Fonte: Jornal da USP