Canguçu, quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
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Novo gestor do HCC enfatiza: “Nosso compromisso é com a transparência e um atendimento humanizado para a população”,

Carlos Benhur Jacondino destacou os desafios do hospital, as medidas para melhorar o acolhimento e a qualidade do atendimento.


Nomeado para a gestão do Hospital de Caridade de Canguçu (HCC), Benhur Jacondino conversou com exclusividade com o Canguçu Online sobre os desafios à frente da instituição. Durante a entrevista, o gestor destacou a situação financeira do hospital, e as medidas que estão sendo tomadas para equilibrar as contas. Além disso, abordou a importância da transparência na administração, a necessidade de novos recursos para garantir a sustentabilidade do HCC e a implantação do plantão pediátrico, um serviço aguardado há anos pela comunidade. Confira a entrevista:

 

Online: Quem é o Benhur e por que você aceitou o convite para gerir o Hospital de Caridade de Canguçu? 

Benhur: Agradeço essa oportunidade! Meu nome é Carlos Benhur Nunes Jacobino, tenho 56 anos, já trabalhei aqui no hospital por 18 anos como contador. Eu sou contador de formação e, depois de sair daqui (do HCC), trabalhei no comércio local, estive, também, na contabilidade da prefeitura por um período. E quando o prefeito, depois de eleito, me convidou para assumir esse desafio, eu confesso que me surpreendi. Pensei, refleti bastante a respeito, conversei com a família porque não é um desafio muito fácil, é uma situação bastante desafiadora, em função da complexidade que existe no hospital. Como eu já tinha uma experiência com a contabilidade – a parte financeira – , eu resolvi aceitar e, também, pela questão da saúde, que o prefeito bate muito em cima e uma das metas dele é melhorar a questão para a população. Então, isso me fez aceitar o convite e enfrentar esse desafio de assumir a administração do hospital. 

 

Online: Falando da questão financeira, sabe-se que a realidade é complicada, não só no HCC, mas também no município. Quais são os principais desafios financeiros e como você pretende enfrentá-los?

Benhur: Nós assumimos no dia 2 de janeiro. Já viemos num processo de transição com a gestão anterior e isso foi importante. Essa abertura que o ex-prefeito Vinícius e a gestora Miriam nos proporcionaram fez com que conseguíssemos enxergar algumas coisas antes de assumir o processo de gestão de administração. No geral, nós já tínhamos uma ideia quando entramos sobre o endividamento da instituição e ele é bastante considerável. Podemos falar em um montante entre R$35 e R$40 milhões. Há alguns pontos do endividamento total da instituição que são bastante pesados. Destaco a questão da CEEE, que é um dos maiores valores que a instituição deve. Nós já tivemos três reuniões com a CEEE desde que assumimos, juntamente com a prefeitura, para tentar alinhar um acordo e resolver essa questão. Falo da energia, pois é uma situação que nós já constatamos antes de entrar. É uma realidade que a instituição vinha enfrentando, a questão de um aumento de carga na subestação de energia que o HCC precisa fazer. O transformador já está adquirido, já está aqui no pátio, mas não conseguimos trocar pela questão do endividamento. A CEEE não faz a troca antes da instituição acertar o que deve. Tem 600 placas instaladas, mas não estão interligadas na rede. Elas só estão ali aguardando a ligação e, com isso, não tem nenhum tipo de economia com relação a elas. Tem outros problemas que estamos trabalhando, como por exemplo, a questão das férias vencidas dos funcionários, o qual é um valor considerável também. Já fizemos um levantamento, mas o principal é começarmos a conceder essas férias para o pessoal. Tem funcionários que chegam a estar com cinco férias vencidas. A Há, também, a questão do FGTS dos funcionários, que é um valor considerável, em torno de R$5 milhões para colocar em dia. Tive uma reunião na Caixa Econômica Federal semana passada com a gerente e solicitei um levantamento para vermos se conseguimos iniciar um processo de negociação para colocar essa situação em dia também. E tem várias outras situações com fornecedores e bancos, que estamos, aos pouquinhos, tomando ciência exata dos valores para conseguir regularizar na medida do possível.

 

Online: Já falamos sobre a questão das despesas, que são muitas, mas para a que a comunidade possa entender, quais são as principais fontes dos recursos do HCC?

Benhur: O hospital tem uma contratualização com o Estado, a qual é para atender o SUS. Todos os hospitais têm essa contratualização, cada um dentro da sua estrutura e capacidade. O HCC tem hoje um contrato que foi feito, se não me engano, no ano passado, que tem duração de cinco anos. O Estado aporta entre R$1,2 milhão, mas depende da produção do hospital por mês. De outra parte, tem o aporte da Prefeitura, que também gira em torno desse valor. O montante do Executivo Municipal é para atender a parte de anestesia, obstetrícia, pediatria e UTI. Tem uma parte de recurso livre, que ajuda bastante o hospital na questão da compra de medicamentos. Hoje nós temos essas duas principais fontes de recursos. Tem algumas coisas privadas, pois há o atendimento particular com as Internações e consultas, convênios com a Unimed, IPE e outros convênios menores que também aportam algum valor. Esses valores hoje são suficientes apenas para manter o funcionamento básico do hospital. O resgate desse passivo que citei anteriormente, nós só conseguiremos com recursos novos, com negociações muito favoráveis à instituição ou verbas extraordinárias, as quais consigamos para poder fazer frente a esse passivo. Com os recursos atuais, nós conseguimos manter o hospital funcionando, bem como o pagamento de funcionários, mas não conseguimos resgatar o endividamento.

 

Online: E sobre o plantão pediátrico que será oficialmente aberto no próximo sábado, como vai funcionar essa novidade para a população?

Benhur: Isso é uma promessa de campanha do prefeito Arion e, na verdade, é para atender uma reivindicação antiga da comunidade. O que acontece hoje? A criança que vem e precisa de um atendimento no final de semana, pois não tem a parte materno no postão, ela acaba vindo para o Pronto Socorro. Ele é urgência e emergência, mas é para adulto.Claro que na ausência de um pediatra, acontece o atendimento pelo clínico do Pronto socorro, mas ele não é um especialista em criança. Ele é um clínico geral. Então, nós, a partir do momento que assumimos a gestão, começamos a trabalhar na montagem de um atendimento diferenciado. Quando essa criança, essa mãe ou pai chegarem aqui, eles vão entrar numa porta diferente do Pronto Socorro, que é a mesma recepção hoje do particular. Como o atendimento vai ser só à noite e finais de semana será utilizada aquela recepção. Com isso, será feita a ficha da criança e ela será encaminhada para um setor, onde hoje é o ambulatório,e agora foi pensado um ambiente diferente. Há uma sala de observação, caso a criança precise fazer soro, oxigênio ou nebulização, por exemplo.

O ambiente já está pronto e tem o consultório médico também, no qual o pediatra vai estar à disposição para fazer esse atendimento diferente. A criança não vai ficar mais ali, junto com os adultos, ela terá o ambiente todo separado para fazer um acolhimento diferente. Cabe que para ser considerada criança, pela legislação, ela deve ser menor que 12 anos. Na hora da internação, além de fazer a ficha, será solicitado o documento dessa criança para identificar se ela está classificada e pode ser atendida nesse ambiente. Em breve já serão colocadas as placas de identificação aqui na frente do hospital, bem como nas portas onde ficará o consultório médico, o ambulatório e a sala de observação. Temos a certeza que esse serviço vai ser importante e trará um diferencial muito interessante para atender a nossa comunidade. 

 

Online: E, por fim, qual a mensagem que você gostaria de deixar para a comunidade? O que a comunidade pode esperar? 

Benhur: Eu assumi com o objetivo de manter sempre a transparência e a comunicação aberta com a comunidade. Para que os canguçuenses possam buscar suas demandas e serem bem atendidos. Estamos procurando fazer um trabalho de conscientização com o pessoal de linha de frente do hospital, para prestar um atendimento humanizado. Existe uma demanda muito grande, principalmente no Pronto Socorro, que é a porta de entrada e é onde existe o maior volume de atendimentos. Creio que o foco seja em dar um atendimento diferenciado para essa pessoa, de pelo ter uma atenção especial e um acolhimento que permita que ela tenha um pouco mais de tranquilidade. Quando a pessoa vem, ela vem com algum problema, então cabe ao hospital tentar solucioná-lo e não atender de uma forma que a pessoa fique pior do que ela já chegou aqui. Manteremos um diálogo com a comunidade, abrindo essa questão financeira, esclarecendo a situação, bem como a evolução, o porquê que essa situação se criou e continuaremos buscando as soluções.

 

Ouça a íntegra da entrevista: