Canguçu, domingo, 24 de novembro de 2024
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Secretaria da Saúde realizará projeto sobre casos de tuberculose resistentes ao tratamento

A Secretaria da Saúde (SES) firmou com o Ministério da Saúde, nesta sexta-feira (26/5), a adesão a um projeto-piloto no país para a vigilância genômica da tuberculose em casos nos quais a bactéria é resistente ao tratamento. A resistência aos medicamentos é um dos principais fatores que contribuem para manutenção do cenário atual da doença. […]


A Secretaria da Saúde (SES) firmou com o Ministério da Saúde, nesta sexta-feira (26/5), a adesão a um projeto-piloto no país para a vigilância genômica da tuberculose em casos nos quais a bactéria é resistente ao tratamento. A resistência aos medicamentos é um dos principais fatores que contribuem para manutenção do cenário atual da doença. A chance de cura é calculada em 82% para alguns casos – contudo, pode cair para 26% se a infecção se dá por uma cepa resistente a múltiplas drogas.

Com taxa de incidência acima da média nacional, o Rio Grande do Sul já realizava análises genômicas no Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), por isso a escolha do governo federal.

Já foram identificados no Estado múltiplas cadeias de transmissão de cepas da bactéria Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de Koch, resistentes aos dois principais componentes dos medicamentos mais usados no tratamento: a isoniazida e a rifampicina. Por isso, essas cepas recebem o nome de multidroga resistente (MDR).

Diante da necessidade de novos esquemas de tratamentos efetivos para os pacientes com tuberculose resistente, novas drogas (como a bedaquelina e a delamanida) foram incorporadas no Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos anos – possibilitando, assim, a prescrição desses medicamentos no Brasil desde 2021.

No entanto, o conhecimento sobre a ocorrência de resistência a essas novas drogas no Brasil ainda é muito limitado e existe uma demanda urgente para o controle da tuberculose no país. Dessa forma, para identificar o quantitativo e como a resistência a essas novas drogas ocorre, a vigilância genômica em tuberculose é uma ferramenta considerada fundamental.

Com esse estudo pioneiro do Rio Grande do Sul, espera-se que seja possível identificar e caracterizar as bases moleculares da resistência inicial da bactéria causadora da doença antes, durante e após o início do tratamento.

“O projeto demonstra que o Estado está priorizando trabalhar na área de vigilância genômica. Vamos nos empenhar para sermos exemplo para o país e para que esse projeto consiga os resultados ao qual se propõe”, destacou a titular da Secretaria da Saúde (SES), Arita Bergmann.

O diretor do Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Pedro Almeida, ressaltou que o Brasil possui diagnóstico rápido, tratamento eficaz e vacina contra a tuberculose. Mesmo assim, os casos da doença aumentam por causa da drogarresistência, principalmente entre a população de maior vulnerabilidade social. “Acreditamos que os Laboratórios Centrais de Saúde Pública são a base da vigilância no país”, afirmou.

De acordo com o coordenador da Vigilância Genômica da SES, Richard Salvato, entender como a resistência às novas drogas funciona – seja por mutações genéticas ou por mecanismos intrínsecos da bactéria – vai auxiliar na implementação de novos protocolos diagnósticos e se multiplicar como uma política na área.

A coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose (PECT-RS), Carla Jarczewski, frisou que uma das grandes vantagens do projeto é a possibilidade de reduzir o tempo de tratamento da tuberculose de 18 para seis meses, o que diminuirá a taxa de abandono.

O projeto

O projeto-piloto a ser executado pela SES terá um prazo de 12 meses. Os fluxos de trabalho e protocolos desenvolvidos e utilizados serão descritos em detalhes e disponibilizados ao Ministério da Saúde para permitir a sua reprodução posterior pelos demais Laboratórios de Saúde Pública, possibilitando a implementação de uma rede de vigilância genômica a nível nacional.

A previsão é de que aproximadamente 150 amostras sejam sequenciadas durante o projeto. A análise ocorrerá por meio da coleta de secreções de pacientes com suspeita clínica de tuberculose que são submetidos a testes moleculares e de cultura bacteriana para detecção da bactéria e sua resistência.

O Cevs compreende toda a estrutura laboratorial e de vigilâncias (epidemiológica, sanitária, ambiental e saúde do trabalhador) da SES. Integrando a estrutura laboratorial do centro está o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-RS), responsável pelo diagnóstico laboratorial da resistência em tuberculose no Estado; e o Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT), um laboratório de alta tecnologia dedicado à medicina de precisão por meio de diferentes abordagens genômicas.

Tratamento da tuberculose

O SUS oferece tratamento totalmente gratuito para a tuberculose. O diagnóstico logo no início dos sintomas e o acompanhamento do paciente pelas equipes de saúde são estratégias para identificar as fontes de infecção e interromper a transmissão a outras pessoas.

A adesão ao tratamento é um fator importante para garantir a cura e barrar a cadeia de transmissão, devendo ser seguido corretamente. O cuidado terapêutico é um processo longo, durando no mínimo seis meses e exigindo o uso de medicação contínua, apesar da melhora logo nas primeiras semanas.

Por esse motivo, o tratamento deve ser realizado rigorosamente até o final, pois a administração irregular pode acarretar complicações e provocar o desenvolvimento de tuberculose resistente aos medicamentos utilizados.

Números da doença

No Brasil são notificados aproximadamente 70 mil casos novos a cada ano e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose.

O Rio Grande do Sul tem mantido uma média de cerca de 5 mil casos novos de tuberculose (pacientes que nunca trataram da doença em outra ocasião) por ano, o que gera uma taxa de incidência aproximada de 40 casos para cada 100 mil habitantes. Outras 1,5 mil pessoas por ano representam casos de pacientes em retratamento (pessoas que já fizeram um tratamento prévio), de modo que o somatório se aproxima de 6,5 mil pacientes atendidos anualmente.

Texto: Ascom SES
Edição: Felipe Borges/Secom