VÍDEO: Canguçu está entre as vítimas de roubo de fumo no RS
Agricultores e motoristas que transportam tabaco no Rio Grande do Sul têm sofrido com a ação de quadrilhas especializadas em roubar a produção. Só entre março e abril de 2019, época em que o fumo começa a ser transportado, foram 12 roubos de cargas em municípios gaúchos, segundo a Polícia Civil e a Associação dos […]
Agricultores e motoristas que transportam tabaco no Rio Grande do Sul
têm sofrido com a ação de quadrilhas especializadas em roubar a produção. Só entre março e abril de 2019, época em que o fumo começa a ser transportado, foram 12 roubos de cargas em municípios gaúchos, segundo a Polícia Civil e a Associação dos Fumicultores do Brasil.
Os crimes aconteceram nas cidades de Gramado Xavier, Arroio dos Ratos, Taquari, Cerro Grande do Sul, Chuvisca, São Lourenço do Sul, Sertão Santana, Dom Feliciano, Canguçu, Camaquã, Canoas e Porto Alegre. A Polícia Civil acredita que esse número possa ser ainda maior porque muitos casos acabam não sendo registrados.
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Em Barão do Triunfo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, o agricultor Letiere Vaz cuida há décadas de uma plantação de fumo e costuma guardar a produção em casa, mas diz que armazenar tabaco está muito perigoso. É que a família dele acabou sendo vítima de um assalto.
— Eles entraram, renderam a minha esposa, foram dentro do galpão e me renderam, juntaram a gente e trouxeram para o canto da sala. Botaram a gente em um colchão e tomaram conta da situação. Daí, eles pegaram a minha caminhonete e começaram a levar fumo embora — relata o agricultor.
São quadrilhas que se especializaram em invadir sítios para roubar a produção de meses.
— A maioria dos roubos que acontecem dentro do município é visando ao roubo de tabaco. Com o que aconteceu, a gente acaba sabendo de vários outros produtores que já foram vítima desse tipo de coisa — conta Letiere.
E os roubos não acontecem somente nas propriedades. Quem transporta fumo também diz ser alvo das quadrilhas.
— Saímos em comboio, eram três caminhões. O último acabou estourando dois pneus. Paramos para prestar socorro para esse caminhão e, logo após, questão de segundos ou minutos ali, parou um carro atrás. Nisso, nos abordou, pegando nós três. Eram três motoristas, um em cada caminhão — relata o agricultor e transportador Márcio Luis Jaskulski.
O motorista leva cargas de fumo do município de Chuvisca para Venâncio Aires, onde ficam as principais empresas de tabaco do estado, no Vale do Rio Pardo. Foi no meio desse caminho que ele foi abordado pela quadrilha armada, que só queria o fumo.
— Acabaram pegando o caminhão que eu estava dirigindo e, a partir daí, os outros dois motoristas foram postos no porta-malas. Eu acabei ficando junto com os bandidos no banco de trás, e o caminhão seguindo para um lado, e nós sem destino. Só disseram para a gente ficar calmo, que eles queriam a carga, não queriam nada fazer conosco — acrescenta Márcio.
— Daí nós rodamos até por volta das 19h, 20h, paramos em um matagal, e eles disseram para nós: ‘agora, vocês vão ficar aqui, esperar descarregar a carga e vamos soltar vocês e liberar o caminhão, mas se vocês se meterem à besta, nós podemos matar vocês e tocar fogo no caminhão — lembra o transportador.
— Nos últimos anos está cada vez pior, vem aumentando. E a gente vem cada vez mais apreensivo com esses roubos de carga, porque é uma carga que tem uma fácil venda, até mesmo por essas funções dessas empresas — completa Márcio.
A Polícia Civil suspeita que empresas clandestinas de cigarro paraguaio estejam entre as compradoras da carga roubada.
Empresas que atuam de forma clandestina foram mostradas no Fantástico do último domingo (2). São fábricas de cigarros montadas por organizações criminosas em várias partes do Brasil para falsificar marcas conhecidas de cigarros paraguaios.
Além de ser vendido a empresas legalizadas, o fumo roubado pelas quadrilhas acabaria sendo vendido também a essas empresas clandestinas, conforme investigação policial.
Ao fabricar no Brasil cigarros idênticos aos que até agora eram contrabandeados, os criminosos têm dois ganhos. Eles evitam a repressão da polícia na fronteira e a perda da mercadoria, e não pagam nada de imposto. No Paraguai, as taxas são bem menores do que no Brasil, mas existem: correspondem a 18% do preço do cigarro.
Uma das fábricas que fazem o fumo daqui se passar por cigarro paraguaio foi descoberta no fim de 2018 em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Achando que encontraria um desmanche de veículos em um pavilhão escondido no meio de árvores, a Polícia Civil acabou se deparando com uma linha de fabricação de cigarros clandestina tocada por 13 paraguaios que moravam no mesmo local, como se fosse um alojamento.
Na fábrica foram apreendidas máquinas que faziam os cigarros, desde a separação do fumo/tabaco até a embalagem em pacotes prontos para a venda.
Desde 2012, foram descobertas pelas polícias Civil e Federal pelo menos 15 fábricas deste tipo no Brasil.
Informações: Fábio Almeida, da RBS TV, e Humberto Trezzi, do jornal Zero Hora